Foto: Ministério espanhol da Transição Ecológica

Linces: Colaboração entre Portugal e Espanha foi “perfeita”, diz Miguel Ángel Simon

A evacuação do Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), ameaçado pelo incêndio de Monchique, e a transferência dos seus 29 linces para centros espanhóis demonstrou uma “colaboração perfeita” entre Portugal e Espanha, disse à Wilder o director do programa LIFE Iberlince.

 

O incêndio na Serra de Monchique, que alastrou até Silves, chegou nesta quarta-feira a Vale Fuzeiros, localidade onde se situa o CNRLI.

Seguindo um plano de contingência activado desde domingo, como medida preventiva, foi posta em marcha uma operação que envolveu cerca de 70 pessoas, com o objectivo de retirar os linces do centro e levá-los para três centros de reprodução em cativeiro desta espécie em Espanha.

Antes, uma equipa das Forças Armadas tinha estado no CNRLI de 4 a 8 de Agosto “com o objetivo de garantir a preservação da espécie, evitando que o fogo chegasse a este Centro, através de uma limpeza à volta do perímetro, bem como com a realização de ações de vigilância ativa, com patrulhas apeadas e motorizadas”, segundo um comunicado das Forças Armadas Portuguesas.

Tomada a decisão, os animais foram retirados do CNRLI na quarta-feira, numa operação onde participou uma equipa de Fuzileiros da Marinha e militares do Exército. “Os animais foram transportados em três viaturas pesadas, uma dos fuzileiros e duas do Exército, para a Escola EB 2,3 Jacinto Correia de Lagoa”, segundo o mesmo comunicado.

 

 

Evacuação do CNRLI. Foto: Forças Armadas Portuguesas

 

Transporte dos linces. Foto: Forças Armadas Portuguesas

 

Os 29 linces passaram a noite de quarta para quinta-feira naquela escola de Lagoa, local disponibilizado pela Câmara Municipal de Lagoa. “Esperou-se para ver se o incêndio chegava, ou não, às instalações. Caso o centro passasse incólume, e as condições o permitissem, os animais seriam devolvidos ao centro”, explicou em comunicado o Ministério espanhol para a Transição Ecológica.

“Quando, horas mais tarde, se comprovou que o incêndio tinha atingido as instalações dos animais, impossibilitando o seu regresso, foi activada a fase de transferência dos animais para os outros centros de reprodução”, acrescentou.

Assim, “os linces foram levados para os centros de reprodução de Granadilla, Olivilla e Acebuche” e “estão todos bem”, disse ontem à Wilder Miguel Ángel Simon, coordenador do programa ibérico que está a devolver o lince aos seus territórios históricos.

 

Foto: Ministério espanhol da Transição Ecológica

 

Os animais foram distribuídos tendo em conta o espaço disponível em cada um dos três centros, bem como as características dos animais, como por exemplo mães com crias ou casais. Este foi o caso do casal formado pela fêmea Juncia e pelo macho Fado que foram levados com as suas três crias para Granadilla. Este centro acolheu também as fêmeas Fruta, Fresa e Juromenha e o macho Fresco, segundo o jornal espanhol Hoy. “Ainda que algo aturdidos pelos acontecimentos, todos os linces chegaram ao centro sem nenhum problema e lá estavam à sua espera uma equipa de um técnico e um veterinário que durante todo o dia estiveram a preparar as instalações para os receber”, escreve o jornal.

Assim, 12 linces estão no centro La Olivilla (Jaén), com capacidade para 23 animais; nove no centro de Zarza de Granadilla, em Cáceres, com capacidade para 16 animais; e oito no centro de El Acebuche, no Parque Nacional de Doñana (Huelva) e que tem capacidade para 18 linces.

A cooperação entre as autoridades e técnicos portugueses e espanhóis “foi perfeita”, disse Miguel Ángel Simon. “O pedido de ajuda do ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) foi atendido de forma imediata.”

“Todos os centros de reprodução ofereceram as suas instalações, os seus veículos e as suas equipas. No âmbito da colaboração ibérica criada com o LIFE Iberlince, Portugal e Espanha trabalharam juntos de forma coordenada”, concluiu este responsável.

O Iberlince, que termina em Dezembro de 2018, é um projecto que enquadra a conservação do lince-ibérico (Lynx pardinus) em Portugal e Espanha, juntando Portugal, Extremadura, Castilla-La Mancha, Murcia e Andaluzia.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Descubra mais sobre o projecto Iberlince e o seu futuro, nesta entrevista a Miguel Ángel Simon.

Leia a nossa série “Como nasce um lince-ibérico” e conheça os veterinários, video-vigilantes, tratadores e restante equipa do CNRLI em Silves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.