Foto: Hanna Knutsson

Lista Vermelha: coelhos passam a estar Em Perigo de extinção

A situação dos coelhos-europeus (Oryctolagus cuniculus) foi revista para pior pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), no âmbito da última revisão da Lista Vermelha.

“Um novo surto da doença hemorrágica viral dos coelhos causou declínios estimados da população que chegam aos 70 por cento”, justifica a UICN, num comunicado divulgado esta terça-feira.

Desde 2008 e até à mais recente revisão da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, que foi agora publicada pela UICN, este mamífero estava classificado como Quase Ameaçado de extinção. Ou seja, considerava-se que estava próximo de uma situação de ameaça ou que ficaria ameaçado, se não fossem tomadas medidas adicionais de conservação.

Coelhos. Foto: Mathias Appel

Agora, apesar das medidas entretanto tomadas e de estar espalhado noutros países europeus, onde foi introduzido no passado, os cientistas confirmam que a situação deste mamífero piorou nos territórios onde é nativo.

Esta situação tem consequências não apenas para os coelhos, mas também para outras espécies ameaçadas que dependem da abundância destes animais para se alimentarem e para se reproduzirem com sucesso.

“Engenheiro de ecossistemas e espécie-chave, [o coelho] é uma presa essencial para o lince-ibérico (Lynx pardinus) – Em Perigo – e para a águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti), classificada como Vulnerável”, sublinha a UICN. Esta águia é considerada Criticamente Em Perigo no território português.

Planeta tem mais de 30.000 espécies ameaçadas de extinção

Incluindo o coelho, o lince-ibérico e a águia-imperial-ibérica, há agora um total de 30.178 espécies ameaçadas por todo o mundo, de acordo com a Lista Vermelha da UICN, organização sedeada na Suíça. Esta lista, que tem actualmente 112.432 espécies, define o risco de extinção de cada uma, com base em critérios científicos como a evolução das populações.

No entanto, a UICN apenas se refere às espécies que os cientistas já registaram e não às que existem no planeta.

Esta última revisão inclui a entrada de várias espécies para a Lista Vermelha, avaliadas pela primeira vez. É o caso do mexilhão Pinna nobilis, um bivalve nativo do Mediterrâneo, classificado como Criticamente Em Perigo de extinção.

Um patogéneo agora descoberto, Haplosporidium pinnae, está a causar declínios dramáticos na população destes mexilhões. “Causando a morte de 80 a 100 por cento dos mexilhões afectados, isto é um evento de mortalidade em massa”, indica a UICN.

Efeitos das alterações climáticas cada vez mais evidentes

Por outro lado, há também “evidências crescentes dos efeitos negativos das alterações climáticas”, acrescenta a organização internacional. Várias espécies estão a ser afectadas, por exemplo, através da alteração dos habitats e da crescente frequência e gravidade de eventos climáticos extremos.

Um exemplo são os peixes de água doce da Austrália. Destas espécies, 37% são agora consideradas ameaçadas de extinção, das quais 58% directamente devido às alterações climáticas.

“Os peixes são altamente susceptíveis a secas extremas devido ao declínio da precipitação e às temperaturas cada vez mais elevadas. As alterações climáticas também incluem a ameaça de espécies exóticas invasoras, que se podem mudar para novas áreas quando a temperatura e o fluxo da água se alteram.”

Mas também há boas notícias: esta última revisão da Lista Vermelha conduziu à melhoria do estatuto de conservação de 10 espécies reavaliadas, incluindo a espécie Gallirallus owstoni.

Foto: Dick Daniels

Esta ave nativa da ilha de Guam (território norte-americano na Micronésia) estava classificada com a categoria Extinto na Natureza, desde o final dos anos 1980. Melhorou agora o seu estatuto para Criticamente Em Perigo, ajudada por um longo programa de recuperação em cativeiro.

“Esta revisão da Lista Vermelha da UICN oferece um raio de esperança no meio da crise da biodiversidade”, comentou a directora-geral da UICN, Grethel Aguilar.

“Embora tenhamos testemunhado o declínio de 73 espécies, as histórias por trás destas 10 melhorias provam que a natureza vai recuperar se lhe dermos uma hipótese. As alterações climáticas são mais uma das múltiplas ameaças que as espécies enfrentam e temos de agir urgentemente e decisivamente para travarmos esta crise.”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.