Bisonte-europeu. Foto: Rafał Kowalczyk

Lista Vermelha: Há boas notícias para o maior mamífero terrestre da Europa

O bisonte-europeu parece estar a recuperar da ameaça de extinção, anunciou a União Internacional para a Conservação da Natureza, que lamenta mais 31 espécies desaparecidas por todo o mundo.

O futuro do bisonte-europeu (Bison bonasus) ficou um pouco mais promissor. O maior mamífero terrestre da Europa deixou de estar ameaçado de extinção na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que esta quinta-feira anunciou a revisão mais recente deste documento que agora lista o estatuto de conservação de 128.918 espécies em todo o mundo.

Graças a medidas de conservação continuadas, as populações selvagens de bisonte-europeu cresceram de 1.800 animais em 2003 para mais de 6.200 em 2019, o que justifica a mudança da espécie de Vulnerável para Quase Ameaçada, indica a UICN.

Durante muitas décadas, este grande mamífero sobreviveu apenas em cativeiro. Os bisontes-europeus foram reintroduzidos na natureza apenas na década de 1950. Hoje, as maiores populações habitam em três países da Europa de Leste – Polónia, Bielorrúsia e Rússia. Nas contas da UICN, há 47 manadas de bisontes-europeus em liberdade.

Foto: Rafal-Kowalczyk

No entanto, estes grupos “estão muito isolados uns dos outros e confinados a habitats florestais não ideais, com apenas oito suficientemente grandes para serem geneticamente viáveis a longo prazo”, acrescenta a organização internacional. Assim, a espécie continua muito dependente de medidas de conservação.

“Historicamente, os bisontes-europeus foram reintroduzidos na sua maioria em habitats florestais, onde não encontram comida suficiente no Inverno. Todavia, quando se movem para áreas agrícolas fora das florestas, entram muitas vezes em conflitos com pessoas”, nota Rafal Kowalczyk, co-autor desta nova avaliação e membro do Grupo de Especialistas em Bisontes da IUCN.

Más notícias para 31 espécies

Em contraste com a melhoria da situação do bisonte-europeu e de outras 25 espécies, foram anunciadas mais 31 extinções. É o caso de 15 espécies de peixes do Lago Lanao, nas Filipinas, levadas ao desaparecimento por predadores introduzidos, métodos de pesca destrutivos e sobrepesca. Outras duas espécies do mesmo lago estão agora Criticamente em Perigo, último degrau na escada para a extinção na natureza.

Também da face do planeta terão desaparecido três espécies de rãs da América Central, vítimas principalmente da quitridiomicose, um fungo mortal que afecta mais de 500 espécies de anfíbios. Outras 22 rãs na América do Sul e Central estão listadas como Criticamente em Perigo.

Todos os golfinhos de água doce estão ameaçados

A situação dos golfinhos de água doce preocupa também a UICN, que anunciou que todas as espécies deste grupo são agora consideradas ameaçadas de extinção. Isto porque o tucuxi (Sotalia fluviatilis), um golfinho ligado ao rio Amazonas sobre o qual havia informação insuficiente, foi entretanto classificado pelos especialistas como Em Perigo.

Tucuxi. Foto: Fernando Trujillo

“Este pequeno golfinho cinzento […] foi severamente afectado por mortes acidentais causadas por aparelhos de pesca, construção de barragens em rios e pela poluição”, avisa a UICN.

A organização avisa que é fundamental eliminar o uso de “cortinas de redes de pesca que ficam penduradas na água” e reduzir o número de barragens no habitat dos tucuxis, tal como reforçar a proibição da morte deliberada destes mamíferos.

Carvalhos também sob pressão

Mas não são só os animais que estão ameaçados. Entre as plantas, por exemplo, as espécies de carvalhos estão entre as que mais foram escrutinadas por todo o mundo.

Resultado? Dos 430 carvalhos já avaliados e registados na Lista Vermelha, quase um terço das espécies (113) são hoje consideradas ameaçadas de extinção. Os números mais altos concentram-se na China e no México, seguidos pelo Vietname, Estados Unidos e Malásia. Nove carvalhos asiáticos entraram agora na lista da UICN já classificados como Criticamente em Perigo.

Quercus bambusifolia. Foto: Joeri S. Strijk, Alliance for Conservation Tree Genomics

“A limpeza de terras para agricultura e para a indústria madeireira são as ameaças mais comuns na China, México e Sudeste Asiático. As espécies exóticas invasoras, doenças e alterações climáticas são as ameaças-chave para os carvalhos nos Estados Unidos”, adianta a organização internacional.

Até hoje, estima-se que foram descritas para a ciência mais de dois milhões de espécies. Das 128.918 espécies até agora avaliadas no que respeita ao seu risco de extinção e que fazem parte da Lista Vermelha, 35.765 estão ameaçadas. Outras 902 foram até agora declaradas como extintas em todo o mundo.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.