Cria de lobo dos Himalaias. Foto: Geraldine Werhahn

Lobo dos Himalaias mais próximo de ser reconhecido como nova subespécie

Adaptou-se a sobreviver em grandes altitudes com pouco oxigénio, onde outros lobos não conseguem habitar, e por isso poderá ser reconhecido como uma subespécie dentro do grupo dos lobos-cinzentos.

 

É esse o objectivo de uma equipa internacional de cientistas, que defendem que o lobo dos Himalaias possui uma adaptação genética que lhe permite viver em locais com metade do oxigénio do que é habitual em altitudes mais próximas do mar.

 

Cria de lobo dos Himalaias. Foto: Geraldine Werhahn / Himalayan Wolves Project

 

As conclusões do estudo foram publicadas esta quarta-feira no Journal of Biogeography, num artigo assinado por investigadores do Reino Unido, China, Nepal e outros países.

Em causa estão lobos que ocorrem nos Himalaias do Nepal e do Tibete e ainda nas cadeias montanhosas da Ásia Central, acima dos 4.000 metros. Em altitudes mais baixas misturam-se com o lobo-cinzento (Canis lupus), mas mais acima este último não consegue manter-se, devido à dureza das condições.

Os cientistas pretendem que esta possível subespécie seja reconhecida com um nome científico próprio, para que passe a ser considerada na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. Isso permitiria estudar com mais detalhe a situação actual desses lobos, no que respeita ao risco de extinção, e definir medidas abrangentes para a sua conservação.

Mas para isso, segundo a coordenadora do novo estudo, Geraldine Werhahn, da Universidade de Oxford, a equipa terá de obter provas genéticas adicionais. “Tudo aponta para que [o lobo dos Himalaias] seja elegível como espécie por direito próprio, mas antes temos de obter amostras genéticas de elevada qualidade, o que é a parte difícil”, disse ao The Guardian.

 

Lobo dos Himalaias adulto. Foto: Geraldine Werhahn / Himalayan Wolves Project

 

Estes lobos formam alcateias com cinco membros em média, menores do que no caso do lobo-cinzento. Os cientistas analisaram as fezes destes animais e descobriram que caçam marmotas (Marmota himalayana) no Verão e lebres-peludas (Lepus oiostolus) e carneiros-azuis (Pseudois nayaur) no Inverno, espécies típicas da região.

 

Marmota dos Himalaias, uma das presas destes lobos. Foto: Geraldine Werhahn / Himalayan Wolves Project

 

Mas por vezes também atacam o gado, muito mais presente nestas montanhas do que espécies selvagens, o que surge como um motivo de conflito com habitantes locais, indicou uma notícia da Universidade de Oxford.

O lobo dos Himalaias não é um caso único. Na Península Ibérica, incluindo Portugal, a União Internacional para a Conservação da Natureza admite que possa haver uma subespécie do lobo-cinzento, o lobo-ibérico (Canis lupus signatus). O reconhecimento desta subespécie foi proposto pela primeira vez em 1907, pelo naturalista espanhol Ángel Cabrera.

De acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005), o lobo-ibérico está Em Perigo de extinção. Até 2021, uma equipa de investigadores está a realizar um censo nacional da espécie, que está hoje estimada em cerca de 2.000 lobos em território nacional.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Conheça o Himalayan Wolves Project, que trabalha na investigação científica e na conservação do lobo dos Himalaias.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.