lobo ibérico
Lobo ibérico conservado no Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard

Lobo procura refúgio da perseguição humana quando tem crias

Os lobos minimizam o risco de interagir com humanos durante a época de reprodução, quando estão mais vulneráveis, e isto acontece desde o Alasca e Península Ibérica à Índia e Afeganistão, segundo um novo estudo publicado na revista Biological Conservation.

 

O lobo (Canis lupus) ocupa uma área de distribuição mundial muito ampla, em comparação com a maior parte dos mamíferos terrestres. É capaz de sobreviver em praticamente qualquer lugar, incluindo os ambientes dominados pelo homem. Mas durante a época de reprodução, a vulnerabilidade deste mamífero em relação ao ser humano é especialmente elevada, reconhece uma equipa de 27 investigadores de 12 países  – entre os quais Francisco Álvares e Helena Rio-Maior, do CIBIO-InBIO – no artigo da Biological Conservation, publicado em Julho.

Víctor Sazatornil – colaborador do Departamento de Biologia Evolutiva, Ecologia e Ciências Ambientais da Universidade de Barcelona e o principal autor do estudo – explica que os investigadores visitaram 728 zonas de reprodução de lobo. “Descobrimos que, de uma maneira geral, os lobos minimizam o risco de interagir com o homem”, disse o investigador, citado num comunicado daquela Universidade. Os lobos fazem-no escolhendo como lugares de reprodução, dentro dos seus territórios, “espaços longe da actividade humana ou escondendo-os bem em zonas com refúgio abundante, onde passam despercebidos ou onde o acesso do homem é difícil”, acrescentou.

Este comportamento parece ser mais acentuado nas regiões com maior densidade populacional humana.

Os autores deste estudo não encontraram apenas padrões gerais da escolha dos locais de reprodução dos lobos. Concluíram também que na Europa e na Ásia, os lobos são especialmente sensíveis aos humanos na hora de escolher os locais para cuidar das suas crias. Refugiam-se nas zonas mais elevadas e escarpadas dos seus territórios. “Pelo contrário, na América do Norte, esta sensibilidade não parece tão acentuada e os lobos elegem os fundos dos vales e as zonas de relevo mais suave”, apontam os autores no comunicado.

“Na Europa e na Ásia existe uma coexistência mais estreita entre lobos e actividade humana. Deste modo, ao persistir em zonas mais humanizadas, os lobos devem compensar esta maior exposição ao homem sendo mais cautelosos nos lugares de reprodução”, explicou Sazatornil.

Segundo os autores do estudo, a gestão do habitat do lobo é uma questão a ter um conta. José Vicente López-Bao, da Universidade de Oviedo e um dos autores, explicou que “apesar de os lobos e de outros grandes carnívoros serem capazes de viver perto do homem e não precisarem de grandes superfícies de habitat inalterado, a questão do habitat não deve ser esquecida quando se quer preservar estas espécies em ambientes humanizados”. Na sua opinião, as medidas de protecção “deveriam orientar-se, pelo menos, para a garantia da presença de pequenas zonas dentro dos seus territórios com vegetação capaz de os proteger e para a regulação da actividade humana durante o período reprodutor”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.