Lobo-cinzento. Foto: Hans Peck/Unsplash

Lobos já cuidariam da alcateia há 1,3 milhões de anos

Uma equipa internacional de investigadores encontrou sinais de que um lobo ancestral terá sido alimentado pelo grupo até recuperar de ferimentos.

Os esqueletos de lobo, da espécie Canis chihliensis, foram encontrados no norte da China e datam de há cerca de 1,3 milhões de anos. As escavações realizaram-se na base de Nihewan, conhecida pela quantidade de vestígios da Idade do Gelo.

Os cientistas encontraram provas de infecções dentárias, provavelmente provocadas quando os lobos tentavam quebrar ossos das presas para se alimentarem da medula no interior.

Mas o mais entusiasmante foi um osso de tíbia – osso da parte inferior da perna – quebrado em três partes, com sinais de ter havido tempo suficiente para esse lobo recuperar do ferimento. As conclusões foram publicadas esta semana na revista científica PeerJ.

“O ferimento deve ter incapacitado o lobo, um predador activo que caçava ao perseguir as presas, mas no entanto sobreviveu, como sugere o facto de o osso se ter curado”, indica um comunicado da Academia Chinesa de Ciências, uma das instituições que participaram na investigação. “A sobrevivência sugere que enquanto recuperava, o lobo conseguiu comida sem ser a caçar, provavelmente com o apoio da alcateia.”

“Os predadores de topo são raros no registo fóssil devido à sua posição na pirâmide alimentar”, afirmou por sua vez Xiaoming Wang, curador de paleontologia de vertebrados no Museu de História Natural de Los Angeles, que também participou nos trabalhos. “Fósseis que preservam ferimentos grotescos de um passado distante fascinam os paleontólogos desde há muito e contam histórias que são raramente narradas.”

Os cientistas avisam todavia que são necessárias mais provas para confirmar se a entreajuda dentro das alcateias já acontecia na altura, tanto tempo antes do aparecimento dos lobos modernos.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.