Foto: SPEA

Macaronésia: Poluição luminosa passa a ser medida em áreas protegidas

Animais nocturnos como morcegos, insectos e aves marinhas como as cagarras sofrem com a poluição luminosa. Novo projecto quer saber como se propaga a luz artificial nocturna, foi hoje revelado.

Aves marinhas juvenis são encadeadas pelo excesso de luz e podem não conseguir chegar ao mar. “As luzes artificiais colocadas na faixa costeira são particularmente prejudiciais aos juvenis”, explica, em comunicado, Cátia Gouveia, coordenadora regional na Madeira da Spea (Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves).

“Quando estas aves abandonam o ninho, ficam desorientadas, o que pode conduzir à colisão contra infraestruturas, serem atropeladas, tornarem-se presas de cães e gatos e até perecerem por desidratação”.

Mas os impactos da poluição luminosa afectam também outros animais que estão activos à noite, como insectos e morcegos.

Agora, um novo projecto vai medir a contaminação luminosa dos ecossistemas naturais protegidos da Macaronésia, através de laboratórios experimentais. O objetivo é averiguar como se propaga a luz artificial nocturna.

Para tal serão instalados “pequenos aparelhos – fotómetros – que permitirão medir diariamente os níveis de poluição luminosa em algumas destas ilhas” explica Miquel Serra-Ricart, astrónomo do Instituto de Astrofísica de Canárias e coordenador do projecto Interreg EElabs “Laboratórios de Eficiência Energética” (a decorrer entre 2020 e 2022).

Este projecto medirá a escuridão das noites de, pelo menos, cinco ilhas macaronésicas.

A instalação destes sensores iniciou-se em Julho na ilha de Tenerife e La Palma e ainda este ano serão feitos os primeiros testes no município de Santa Cruz e na ilha do Corvo, nos Açores.

Paralelamente, serão desenvolvidos estudos científicos para conhecer de que forma o comportamento das aves é afectado pelo excesso de iluminação, o que permitirá compreender se este tipo de poluição afecta também as cagarras adultas na fase de alimentação das crias – fase onde ocorrem visitas mais regulares às colónias, e se estas visitas estão condicionadas pela iluminação pública, algo que ainda não foi testado.

O projecto quer ajudar a desenvolver legislação ao nível municipal para regulamentação da iluminação e soluções que visem a eficiência energética com base em melhores práticas.

Entre estas estão a orientação das luminárias para o solo e sem vidro, para evitar a dispersão da luz, e com temporizadores e redutores de intensidade. E ainda a utilização preferencial de lâmpadas de cor quente, amarela ou âmbar (<3.000K) ou a colocação de filtros.

Sugere-se ainda, desligar as luzes durante períodos sensíveis para as aves e nas zonas mais críticas, sempre que compatível com a segurança.

O impacte da poluição luminosa sobre as aves marinhas está bem documentado. “O novo projecto vai dar continuidade aos trabalhos desenvolvidos na Macaronésia na redução desta ameaça que afeta tanto aves marinhas, como por exemplo as cagarras, como morcegos, insetos e outros animais.”

Desde 2019 que a Spea tem em curso a campanha Salve uma Ave Marinha, no arquipélago da Madeira. Com maior foco no período entre 15 de Outubro e 15 de Novembro, multiplicam-se acções de sensibilização pela região, divulgando boas práticas perante juvenis encandeados pelo excesso de luz e dicas para a redução da iluminação. 

No arquipélago dos Açores, esse trabalho já dura há cerca de 25 anos e envolve brigadas de voluntários.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.