Mais de 150 abutres envenenados na África do Sul e no Botswana

Na semana passada, mais de 150 abutres foram encontrados envenenados em dois incidentes, um no Parque Nacional Kruger (África do Sul) e em Chobe (Botswana). A Fundação para a Conservação dos Abutres alerta que estes incidentes empurram cada vez mais estas espécies ameaçadas para a extinção.

A 11 de Agosto, os guardas do Parque Nacional Kruger encontraram cerca de 100 carcassas de abutres e vários outros em agonia. Conseguiram levar 27 para um centro de reabilitação para serem recuperados, avança hoje a Fundação para a Conservação dos Abutres (Vulture Conservation Foundation, VCF, sigla em Inglês).

No dia seguinte foram encontrados mais de 50 grifos-africanos (Gyps africanus), 12 dos quais imaturos, no distrito de Chobe, no Norte do Botswana. Já em 2019 tinham morrido 537 abutres envenenados na mesma região daquele país.

Foto: VCF

Nestes dois casos recentes, tudo indica que os abutres terão morrido depois de se terem alimentado da carcassa de um búfalo com veneno.

“Normalmente, os abutres não são os alvos principais dos envenenamentos mas, com base nas evidências, parece que desta vez foram envenenados deliberadamente”, considera, em comunicado, a VCF. Em muitas carcassas de abutres faltam cabeças, pés e órgãos.

Estão em curso investigações em ambos os casos e as autoridades recolheram amostras para análise.

A morte de mais de 100 abutres acontece em plena época de reprodução destes animais, muitos deles estando agora a pôr os seus ovos ou a preparar-se para o fazer. “Como uma elevada proporção dos indivíduos afectados são adultos reprodutores e os abutres tendem a ser monógamos, ter-se-ão perdido casais” nesta época reprodutora.

“As populações dos abutres africanos não podem suportar perdas como estas; essas populações registaram declínios de cerca de 90% nos últimos 30 anos e os envenenamentos são uma das razões.”

Hoje, sete das espécies de abutres de África estão à beira da extinção; quatro estão listadas como Criticamente Em Perigo e três Em Perigo, segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.