Mais de 80 instituições criam banco português de biodiversidade marinha

Oceanos. Foto: David Mark/Pixabay

O Biobanco Azul Português, que reúne 83 instituições, quer centralizar a “informação sobre a biodiversidade marinha num só local e incentivar a conservação da biodiversidade marinha”, através de uma valorização económica sustentável, foi hoje revelado.

O Biobanco Azul Português (BAP) quer “criar uma plataforma digital que permita agilizar o acesso sustentável e regulamentado à biodiversidade marinha portuguesa”, explicou, em comunicado divulgado hoje, o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP), entidade que coordena o projecto.

Este Biobanco é um dos 10 eixos do Pacto da Bioeconomia Azul, estratégia para fortalecer e reindustrializar as indústrias portuguesas associadas à exploração dos recursos marinhos, aumentando o conhecimento e preservação destes biorecursos.

Para isso, as 83 instituições nacionais em consórcio comprometem-se na integração de soluções de biotecnologia azul nas cadeias de valor nacionais, potenciando a utilização sustentável dos biorrecursos marinhos para aumentar o valor acrescentado através da inovação neutra em carbono.

O Biobanco Azul Português pretende criar uma rede nacional de biobancos. Esta rede “permitirá otimizar o acesso aos biorecursos de diferentes tipologias que passam pelas coleções vivas de organismos, amostras preservadas, material genético ou extratos”, segundo o CIIMAR.

O trabalho vai passar pela criação de novas bases de dados e materiais nas instituições participantes mas também organizar as coleções já existentes, “agilizando a sua certificação e implementando um sistema de acesso, catalogação e de gestão de qualidade”.

Por exemplo, o Biobanco do CCMAR (Centro de Ciências do Mar), da Universidade do Algarve, irá integrar microrganismos marinhos e macroalgas e o CIIMAR contribuirá com três coleções: a coleção LEGE_CC, uma nova coleção de microrganismos marinhos, a CM2C – CIIMAR Microbial Culture Collection e uma coleção de esponjas e cnidários que incluem espécimes de mar profundo.

O objectivo é centralizar a “informação sobre a biodiversidade marinha num só local e incentivar a conservação da biodiversidade marinha, promovendo a conformidade com as regulamentações de Acesso e Compartilhamento de Benefícios (ABS) derivadas do Protocolo de Nagoya”, explicou Vítor Vasconcelos, presidente da direção do CIIMAR e coordenador do BAP.

Numa fase inicial, o BAP integrará coleções de bactérias, fungos, micro e macroalgas, invertebrados marinhos, parasitas de peixes e moluscos, sémen e ovos de peixes de interesse comercial.

Além do CIIMAR, fazem parte deste consórcio de 83 instituições nacionais a Universidade Nova de Lisboa, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, o Instituto Gulbenkian de Ciência, a Universidade de Aveiro, o Instituto Superior Técnico, o Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve e dois laboratórios colaborativos, o S2Aqua e o GreenColab.

Segundo o CIIMAR, “pretende-se uma infraestrutura dedicada e digitalizada em mapeamento e acesso, permitindo o controlo das suas utilizações e distribuição para exploração tanto comercial como científica. As aplicações são abrangentes e remetem para áreas como a alimentação humana e animal, a saúde, os biomateriais e biocombustíveis e o restauro e remediação dos ecossistemas”.

O projeto começou com a reunião oficial de lançamento decorrida a 21 de Abril e pretende-se estar implementado até ao fim de 2025, contando com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.