Oceanos. Foto: Mobibit/Pixabay

Mar Mediterrâneo atinge nível recorde de poluição por microplásticos

No Dia Mundial dos Oceanos, a WWF alerta para o risco de o Mar Mediterrâneo se transformar num “mar de plástico”. Um novo relatório desta organização denuncia níveis recorde de poluição causada por microplásticos.

 

Actualmente, 95% dos resíduos que flutuam neste mar são compostos por plásticos, avisa a WWF em comunicado divulgado hoje, o Dia Mundial dos Oceanos.

A maior parte desse plástico vem da Turquia e Espanha, seguida pela Itália, Egito e França. Os turistas que visitam a região a cada Verão são responsáveis por um aumento de 40% no lixo marinho, de acordo com o relatório “Sair da armadilha plástica: Salvar o Mediterrâneo da poluição plástica”.

Os microplásticos atingiram níveis recordes de concentração de 1,25 milhão de fragmentos por km2 no Mar Mediterrâneo, quase quatro vezes mais altos do que na “ilha de plástico” no Oceano Pacífico Norte.

“Os impactos da poluição plástica no Mediterrâneo têm repercussões em todo o mundo e Portugal, que está na rota de saída deste mar, é o primeiro a sofrer as consequências, com sérios danos tanto para a natureza quanto para a saúde humana”, disse Ângela Morgado, diretora executiva da Associação Natureza Portugal (ANP) – WWF.

De acordo com artigos científicos recentes, citados pela organização, 20% dos peixes de consumo quotidiano revelam microplásticos nos seus estômagos e 80% das tartarugas-marinhas-comuns (Caretta caretta), cujos juvenis gostam de se alimentar na zona dos Açores, comem lixo, na sua maioria plástico. Além disso, em Portugal os microplásticos predominam nas areias das praias, representando 72% do lixo encontrado em zonas industriais e de estuários.

“O problema dos plásticos é um sintoma do declínio geral da saúde do Planeta. Precisamos agir com urgência e em toda a cadeia para salvar os nossos oceanos da presença generalizada de plásticos” acrescentou Ângela Morgado.

A WWF pede aos Governos que adoptem “um acordo internacional juridicamente vinculativo para eliminar a descarga de plástico nos oceanos”, com objectivos nacionais de 100% de resíduos plásticos reciclados e reutilizáveis ​​até 2030 e proibições nacionais para itens plásticos descartáveis, como sacos de plástico.

A organização desafia ainda as empresas para “investirem em inovação e projetarem um uso de plástico mais eficaz e sustentável”.

De acordo com o relatório, atrasos e lacunas na gestão de resíduos plásticos na maioria dos países do Mediterrâneo estão entre as causas da poluição por plásticos. Das 27 milhões de toneladas de resíduos plásticos produzidos anualmente na Europa, apenas um terço é reciclado.

E os impactos são bem visíveis. No mar Mediterrâneo, 134 espécies (peixes, tartarugas marinhas, mamíferos e aves marinhas) são vítimas de ingestão de plástico. Todas as espécies de tartarugas marinhas que vivem no Mediterrâneo ingeriram plásticos. Em alguns animais foram encontrados até 150 fragmentos de plástico. E estima-se que 18% do atum e do peixe-espada tenham detritos plásticos no estômago, principalmente celofane e PET.

Mas não é só a vida selvagem a sofrer com a poluição. “Estima-se que os resíduos marinhos custem à frota de pesca da União Europeia 61,7 milhões de euros por ano, devido à redução da captura de peixe, aos danos causados ​​aos navios ou à redução da procura de frutos do mar devido à preocupação com a qualidade dos peixes.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.