Flores silvestres. Foto: Helena Geraldes/Wilder

Mariposas são polinizadores mais eficientes do que as abelhas, mostra novo estudo

As mariposas, também chamadas borboletas nocturnas, são polinizadores mais eficientes de noite do que polinizadores diurnos como abelhas, segundo um novo estudo da Universidade britânica de Sussex publicado a 29 de Março.

Numa altura de grande preocupação sobre o declínio dos insectos polinizadores selvagens, como abelhas e borboletas, investigadores da Universidade de Sussex descobriram que as mariposas são polinizadores especialmente vitais para a natureza.

A equipa estudou 10 locais no Sudeste de Inglaterra durante Julho de 2021 e concluiu que 83% das visitas de insectos às flores das silvas foram feitas durante o dia. Enquanto as mariposas fizeram menos visitas durante as noites de Verão, mais curtas, com apenas 15% das visitas, foram capazes de polinizar as flores mais depressa.

Assim, os investigadores concluíram que as mariposas são polinizadores mais eficientes do que insectos que voam durante o dia como as abelhas que são, tradicionalmente, tidas como “muito trabalhadoras”. Enquanto os insectos diurnos têm mais tempo disponível para transferir pólen, as mariposas fizeram uma contribuição importante durante as poucas horas de escuridão.

“As abelhas são, sem dúvida, importantes mas o nosso trabalho mostrou que as mariposas polinizam flores a um ritmo mais rápido do que os insectos diurnos”, comentou Fiona Mathews, co-autora do estudo e investigadora da Universidade de Sussex.

“Infelizmente, muitas mariposas estão em sério declínio no Reino Unido, o que afecta não apenas a polinização mas também a disponibilidade alimentar para muitas outras espécies, desde os morcegos às aves”, notou.

Os investigadores estudaram a contribuição de insectos nocturnos e não nocturnos para a polinização das silvas. Monitorizaram o número de insectos a visitar as flores usando câmaras de foto-armadilhagem e perceberam o quão rapidamente o pólen era depositado a diferentes alturas do dia evitando, experimentalmente, insectos de visitar algumas flores mas não outras.

Além disso, o estudo defende ainda a importância das silvas, um arbusto considerado “daninho” e a maior parte das vezes destruído, como sendo vital para os polinizadores nocturnos.

“As mariposas são polinizadores importantes e são pouco estudadas e apreciadas”, comentou Max Anderson, na altura do estudo na Universidade de Sussex e agora na organização Butterfly Conservation. “A maioria da investigação sobre polinizadores tende a focar-se nos insectos diurnos, esquecendo o que acontece durante a noite.”

Segundo Max Anderson, é preciso “agir para proteger os insectos nocturnos, encorajando algumas silvas e arbustos com flores nos nossos parques, jardins, bermas de estrada e sebes”.

Os insectos polinizadores são uma parte vital de muitas comunidades ecológicas e uma parte muito importante dos ecossistemas. Os polinizadores permitem às plantas darem frutos, sementes e reproduzir-se. Isto, por sua vez, providencia alimento e habitat para muitas outras criaturas. Por isso, defendem os investigadores, “a saúde dos nossos ecossistemas está profundamente ligada às abelhas e aos outros polinizadores. Mas, devido principalmente às alterações climáticas e à agricultura intensiva, estes insectos estão em declínio”.

Esta investigação mostra que tanto os polinizadores diurnos como nocturnos precisam de ser protegidos para permitir aos ecossistemas florescer. Os cientistas apelam aos cidadãos para ajudar plantando flores brancas, deixando zonas de arbustos e ervas altas e apagando as luzes à noite.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.