Milhafre-real envenenado já recuperou e vai ser devolvido à natureza

Um milhafre-real, o único animal que sobreviveu ao terceiro maior caso de envenenamento de fauna selvagem conhecido em Portugal desde 2003, já está recuperado e vai ser devolvido à natureza nesta quarta-feira.

 

Em Novembro foram encontrados 14 animais selvagens envenenados na Zona de Protecção Especial de Castro Verde no Alentejo (uma águia-imperial-ibérica, 12 milhafres-reais e uma raposa).

O primeiro a ser encontrado foi este milhafre-real (Milvus milvus), uma espécie ameaçada em Portugal. Tinha sinais de envenenamento e de estar em grande sofrimento, descreveu então a Liga para a Protecção da Natureza (LPN), entidade que encontrou a ave.

O animal foi levado imediatamente para o centro de recuperação de animais selvagens em Olhão (RIAS), onde esteve três semanas. Nesta quarta-feira, dia 7 de Dezembro, o milhafre-real será devolvido à natureza perto do Centro Escolar nº2 de Castro Verde, às 12h00.

As equipas do SEPNA (serviço de protecção da natureza) da GNR recolheram todos os cadáveres encontrados e outras evidências no local, que foram encaminhadas para análises forenses. Por agora aguardam-se os resultados dos primeiros exames solicitados pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

“O uso ilegal de venenos é uma prática muito lesiva para a natureza mas que pode também afectar gravemente os seres humanos e os animais domésticos”, escreve a LPN em comunicado. “Existe um elevado risco para a saúde pública, quer por introdução dos tóxicos na cadeia alimentar humana, quer através do contacto directo por manipulação de iscos ou contacto com fluidos de animais envenenados.”

O milhafre-real, outrora comum, começou a desaparecer na década de 60 por causa do uso de pesticidas e da perseguição movida por caçadores e pastores. Hoje tem estatuto de Criticamente em Perigo e está protegido por legislação nacional e internacional. Tem populações residentes em Portugal – especialmente na fronteira com Espanha, nos distritos de Bragança, Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja – e outras apenas invernantes.

[divider type=”thick”]Saiba mais sobre como os venenos afectam as espécies protegidas em Portugal.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.