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Foto: Joana Bourgard

Milhares de cientistas vão participar em marcha pró-ciência e anti-Trump

No sábado, dia 22 de Abril, Dia Mundial da Terra, centenas de cientistas e activistas de várias áreas – incluindo a investigação marinha, climática e ornitologia – vão participar numa marcha em Washington DC contra as políticas do Presidente norte-americano Donald Trump. Portugal é um dos países que organiza marchas paralelas.

 

A Marcha pela Ciência é a resposta destes investigadores a uma administração norte-americana que pretende cortar o orçamento do Estado a dezenas de projectos que lidam com as alterações climáticas, combate à poluição ou ainda a eficiência energética. Em cima da mesa está a redução de sete mil milhões de dólares (cerca de 6,5 mil milhões de euros) a programas científicos, desde a investigação de doenças cancerígenas à oceanografia e à monitorização da Terra pela Agência Espacial Norte-Americana (NASA), segundo o jornal “The Guardian”.

“É importante que os cientistas saiam dos laboratórios e falem daquilo que é importante”, disse àquele jornal Andrew Rosenberg, investigador que passou uma década na Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) e que agora faz parte da Union of Concerned Scientists. “Penso que abrigarmo-nos no nosso laboratório, na esperança de que tudo isto desapareça, não será a melhor estratégia.”

A ideia desta marcha foi lançada em Janeiro na rede social Reddit. Jonathan Berman, da Universidade do Texas, decidiu pôr a ideia em prática. Hoje, a iniciativa tem o apoio de 100 organizações, incluindo a American Association for the Advancement of Science, que tem mais de 120.000 membros.

No sábado, são esperadas centenas de cientistas em Washington DC. Além disso, estão marcados mais de 500 eventos paralelos um pouco por todo o mundo.

Portugal é um dos países que se junta à iniciativa com a sua Marcha pela Ciência, às 14h00 no Largo de São Mamede, em Lisboa. Às 15h00 haverá um comício no Largo do Carmo e às 16h00 a Festa da Ciência em vários pontos do Chiado. “Marchamos em solidariedade com todos aqueles que valorizam a ciência em redor do mundo e em apoio aos países onde determinadas decisões políticas representam uma ameaça à comunidade científica e ao acesso à ciência”, explicam os organizadores do evento em Portugal. “Eventos recentes nos EUA, e noutras partes do globo, são uma ameaça à ciência, ao próprio conhecimento científico, e ao seu financiamento.”

A 28 de Março, o Presidente Trump assinou um decreto para desmantelar a legislação da administração Obama sobre energia limpa, cujo objectivo era limitar a emissão de gases com efeito de estufa das centrais de energia. Jane Goodall, conservacionista britânica e especialista em primatas de renome mundial, reagiu à medida. “Acho que é imensamente deprimente porque muitos de nós (…) temos estado a trabalhar muito pelo Acordo de Paris e por esforços globais para reduzir as emissões de carbono”, citou o “The Guardian”. Goodall lamenta que a administração Trump esteja a questionar a base científica das alterações climáticas. “Não há forma de podermos dizer que as alterações climáticas não estão a acontecer: estão a acontecer por todo o lado.”

Ayana Johnson, bióloga marinha e uma das organizadoras da marcha em Washington DC, lamenta o distanciamento entre as pessoas e a Ciência. “Estamos nesta situação porque o público não compreende de que forma a ciência nos beneficia no dia-a-dia”, comentou ao “The Guardian” . “Não temos feito um bom trabalho em comunicar o valor do que fazemos.”

Uma semana depois está prevista outra marcha, desta vez pelo clima.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.