Rinoceronte-de-Samatra. Foto: Cyril Ruoso/Save the Rhino

Morreu o último rinoceronte-de-Samatra macho da Malásia

O futuro desta espécie Criticamente Em Perigo de extinção acaba de ficar ainda mais incerto. Uma fêmea chamada Iman é agora o único animal desta espécie na Malásia.

A população de rinoceronte-de-Samatra (Dicerorhinus sumatrensis), espécie que vivia em grande parte da Ásia, estará hoje reduzida a menos de 100 animais na natureza.

Ontem foi anunciada a morte de Tam, rinoceronte com cerca de 30 anos de idade que vivia no Santuário para Rinocerontes na Reserva de Vida Selvagem Tabin, na região malaia da ilha do Bornéu.

“Tudo o que podia ter sido feito foi feito e executado com grande amor e dedicação”, comentou Christina Liew, vice-ministra do Ambiente da Malásia.

As últimas semanas de vida de Tam envolveram cuidados paliativos, prestados pela equipa da Borneo Rhino Alliance, coordenada pelo veterinário Zainal Zahari Zainuddin.

Segundo esta organização, uma série de análises revelou que vários órgãos de Tam estavam a falhar.

Segundo as autoridades malaias, Tam terá morrido de velhice, mas só com a necropsia se terá a certeza, avança hoje a BBC News.

Tam vivia naquela reserva no estado malaio de Sabah desde Agosto de 2010, quando foi encontrado a vaguear na plantação de óleo de palma de Kretam, em Tawau. O animal, que nessa altura teria cerca de 20 anos, foi capturado por uma equipa de conservacionistas e levado para a Reserva de Vida Selvagem Tabin, onde acabou por morrer agora.

Ao longo destes anos, os conservacionistas tentaram que Tam deixasse descendência, mas os esforços de reprodução em cativeiro com duas fêmeas não tiveram sucesso.

“O mundo perdeu mais uma criatura magnífica e aproxima-se do fim de uma antiga linhagem de rinocerontes”, comentou Margaret Kinnaird, da organização WWF, em comunicado.

“Apresentamos as nossas condolências ao governo de Sabah e à equipa da Borneo Rhino Alliance, que cuidaram de Tam até ao final da sua vida.”

A morte de Tam, o último macho conhecido na região malaia do Bornéu, “salienta a importância crítica dos esforços de colaboração em curso, no âmbito do projecto Sumatran Rhino Rescue”, acrescentou a responsável da WWF.

O rinoceronte-de-Samatra está classificado pela União Internacional de Conservação da Natureza como Criticamente em Perigo de extinção.

Vítima de décadas de desflorestação e caça furtiva, o rinoceronte-de-Samatra sobrevive hoje principalmente na ilha de Samatra, próxima do Bornéu.

Os animais que vivem nas florestas fragmentadas do Sudeste Asiático estão dispersos em três pequenas populações na ilha de Samatra e numa população no Bornéu, o que torna difícil encontrarem-se e reproduzirem-se.

Em Agosto de 2015, uma equipa de cientistas publicou um artigo na revista científica Oryx que declarou a extinção da espécie na natureza na Malásia.

Além disso, os rinocerontes estão ameaçados pela caça furtiva, perda de habitat por causa da desflorestação, exploração mineira e plantações.

O rinoceronte-de-samatra é uma das cinco espécies de rinocerontes do planeta. É a mais pequena de todas, com os seus um metro a um metro e meio de altura. Pode pesar entre 500 e 960 quilos. A esperança média de vida na natureza é entre 30 e 45 anos. 

Esta espécie é considerada a mais “primitiva” de todas as cinco espécies de rinocerontes e será o parente vivo mais próximo dos famosos rinocerontes lanudos que viveram na Europa e na Ásia durante a Idade do Gelo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.