Lobos em Kolmården, na Suécia. Foto: Daniel Mott

Na Suécia, começou a maior caçada dos tempos modernos ao lobo

Morte de 75 lobos por caçadores pretende reduzir população que está estimada em cerca de 400 animais, mas é criticada por aumentar riscos de endogamia.

O número de lobos que poderão ser alvejados por caçadores é o maior desde 2010, quando o governo sueco retomou a caça licenciada. A caçada vai decorrer nas cinco regiões suecas onde a densidade da espécie é maior – Gävleborg, Dalarna, Västmanland, Örebro e Värmland – no centro-sul do país, perto de Estocolmo.

Várias organizações ambientalistas suecas recorreram da decisão, mas sem sucesso, e avisaram sobre os efeitos graves para o futuro da espécie. “É trágico. Isto pode ter consequências por muito tempo”, alertou Daniel Ekblom, ligado à Nature Conservation Society em Gavleborg, citado pelo The Guardian.

Desde 2010, o número de lobos abatidos anualmente tem sido bastante menor: no total, foram alvejados 203 em 11 anos. Mas em Maio passado, o governo sueco anunciou que pretende reduzir bastante o número destes animais no território, poucos dias depois de uma maioria parlamentar aprovar uma redução da população considerada viável para 170 indivíduos. “Vemos que a população de lobos está a aumentar a cada ano e queremos ver com isso [com o aumento de licenças de caça] se conseguimos atingir a meta do parlamento. Agora podemos ver que o nível de conflito aumentou e a aceitação [social da espécie] diminuiu”, afirmou na altura a ministra dos Assuntos Rurais, Anna-Caren Satherberg, em declarações à SVT.

No entanto, segundo um grupo internacional de 18 cientistas, que em Julho publicaram uma carta na revista Science, a diminuição anunciada dos lobos face ao número actual “ameaça ainda mais esta população fortemente em perigo, que está geneticamente isolada e endogâmica”.

“As acções da Suécia são inconsistentes com as obrigações do país sob a Convenção para a Diversidade Biológica e as leis da União Europeia”, defendem estes investigadores. Os estudos realizados até hoje mostram que todos os lobos no país descendiam até 2007 de apenas três fundadores, e desde então apenas outros três animais contribuíram geneticamente para a população actual.

“A base genética é por isso extremamente estreita”, alertam os autores da carta, que explicam que em média, este nível de consaguinidade é semelhante ao que é encontrado nos descendentes de dois irmãos. Isso traduz-se, detalham, numa redução do tamanho das crias, numa alta frequência de defeitos anatómicos e em problemas reprodutivos nos machos. Sublinham ainda que até agora “a população tem sido muito pequena” e que “uma imigração limitada [de lobos de outras origens], acompanhada por endogamia, pode conduzir à extinção”.

Só nos anos 1980 é que os lobos regressaram à Suécia – um pequeno grupo de origem russo-finlandesa – depois de terem sido considerados extintos no início do século XX. Hoje em dia, estima-se que habitam cerca de 480 lobos escandinavos em território sueco e norueguês, mas neste último país, a espécie é também legalmente caçada todos os anos, aumentando ainda mais a pressão sobre o futuro destes predadores.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.