Nenhum elefante foi abatido nesta reserva em Moçambique no último ano

Graças a uma nova estratégia para travar os caçadores furtivos, a Reserva Nacional do Niassa, em Moçambique, registou zero elefantes abatidos ao longo do último ano, revelou hoje a Wildlife Conservation Society, que está a apoiar o Governo moçambicano a gerir a reserva.

O último caso de um elefante abatido por caçadores furtivos em Niassa aconteceu a 17 de Maio de 2018.

Este feito é um “sucesso impressionante”, segundo a Wildlife Conservation Society (WCS), tendo em conta que apenas há uns anos a área protegida era vítima deste crime contra a vida selvagem.

Na verdade, a caça furtiva entre 2009 e 2014 reduziu a população de elefantes de Niassa de cerca de 12.000 animais para pouco mais de 3.600 em 2016.

Estima-se que Niassa – com uma área superior à da Suíça – possa albergar uma população de até 20.000 elefantes, sendo uma das poucas áreas que restam em África capazes de suportar uma população robusta desta espécie.

O drástico declínio do número de elefantes abatidos por caçadores furtivos é atribuído à colaboração entre o Governo de Moçambique e as empresas que operam no Parque, combinado com o destacamento de uma força policial de intervenção rápida, um aumento do programa de vigilância aérea, a utilização de um helicóptero e um Cessna e sentenças mais pesadas para os caçadores furtivos.

Este esforço coordenado começou a ser implementado no início de 2018. Para isso juntaram-se o Governo de Moçambique, a WCS e a Niassa Conservation Alliance, que receberam o apoio financeiro de várias entidades, através de donativos.

Os meios aéreos foram usados no início de 2018 e depois de Dezembro de 2018 a Maio de 2019, especialmente para transportar homens e abastecimentos a locais remotos conhecidos como problemáticos mas também para intervir em casos de caça ilegal e para fazer vigilância aérea.

Além disso foi melhorada a comunicação via rádio em Niassa entre todos os parceiros, no âmbito de operações anti-furtivismo.

Estas medidas resultaram numa redução de 87% do número de elefantes abatidos ilegalmente em 2008, em relação a 2017. De 2015 a 2017, as estratégias contra a caça ilegal tinham conseguido reduzir as mortes de elefantes a uma média de 100 animais por ano.

“As acções concertadas iniciadas em 2018 conseguiram reduzir ainda mais o número de mortes, dando-nos a esperança de que os elefantes de Niassa tenham uma verdadeira hipótese de recuperar”, segundo um comunicado da WCS.

A Reserva Nacional do Niassa, criada em 1960 no Norte de Moçambique, é uma das maiores de África, com 42.300 quilómetros quadrados. Ali vivem algumas das mais importantes populações de vida selvagem do continente africano, como por exemplo de elefantes, leões, leopardos, zebras e cães-selvagens-africanos.

“Os elefantes mantêm todo o sistema” natural de Niassa, comentou à CNN Joe Walston, da WCS. “Eles são tão bons cuidadores ecológicos que se forem mantidos vivos e a recuperar, toda a saúde de Niassa poderá melhorar.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.