Borboleta canela (Hipparchia_semele). Foto: Charles J. Sharp

No Reino Unido, as borboletas desapareceram de quase metade dos locais onde eram vistas

O relatório “O Estado das Borboletas”, divulgado esta sexta-feira, revela que a área de distribuição de 58 espécies nativas caiu 42%, desde meados dos anos 1970.

O novo documento publicado pela organização britânica Butterfly Conservancy faz um retrato preocupante das borboletas no Reino Unido, a partir dos dados recolhidos por muitos milhares de voluntários que participam em censos de monitorização destes insectos por todo o país.

A situação é mais complicada para as chamadas borboletas especialistas, que dependem de habitats específicos como prados floridos, clareiras de bosques, charnecas e turfeiras. Em causa estão 26 espécies que deixaram de ser observadas em mais de dois terços (68%) das áreas que habitavam entre 1976 e 2019, à medida que esses ambientes se fragmentavam e eram alterados. A borboleta canela (Hipparchia semele), por exemplo, uma espécie especialista que também ocorre em Portugal, teve a sua área de distribuição reduzida em 92%, enquanto a abundância desceu 72%.

Borboleta canela (Hipparchia semele). Foto: Charles J. Sharp

Mas nem tudo foram más notícias. Algumas espécies que têm sido alvo de campanhas de conservação têm conseguido recuperar, como aconteceu com a grande-borboleta-azul (Phengaris arion), cuja abundância subiu 1,883%, destaca uma notícia do The Guardian. A espécie tinha-se extinguido no final dos anos 1970 e foi reintroduzida com a ajuda de lagartas vindas da Suécia.

E algumas borboletas estão, aparentemente, a ser ajudadas pelas alterações climáticas, alargando a sua área de distribuição mais para norte, suspeitam os cientistas ligados à Butterfly Conservancy. Por exemplo, a borboleta vírgula (Polygonia c-album), também observada em Portugal, viu a sua área de distribuição crescer 94% e a abundância ainda mais, em 203%.

Grande-borboleta-azul (Phengaris arion). Foto: Carsten Siegel

Ainda assim, no geral, os novos dados confirmam o retrato negativo que já tinha sido traçado pelo relatório anterior, publicado em 2015, e apontam para a necessidade de “acções rápidas e efectivas” para lidar com toda esta situação, apelou a directora executiva da Butterfly Conservancy, Julie Williams, numa nota divulgada no site da organização. “O declínio das borboletas a que temos assistido ao longo das nossas próprias vidas é chocante e não podemos mais ficar parados, enquanto vemos a biodiversidade do Reino Unido a ser destruída”, sublinhou.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.