Foto: RSPB

No Reino Unido, um rio voltou a ser livre e o salmão e a truta regressaram

A história da renaturalização de Swindale Beck, um curso de água no Lake District, foi esta semana contada pela BBC.

A televisão britânica, numa notícia publicada online, lembra como em 2016 várias organizações lideradas pela RSPB – Royal Society for the Protection of Birds (em português, Sociedade Britânica para a Protecção das Aves) meteram mãos à obra para voltarem a dar ao rio a sua forma original.

O trecho fluvial de Swindale Beck, no vale de Swindale, tinha sido ‘endireitado’ pelos habitantes locais há 200 anos. Este trabalho humano, quando ainda não existiam máquinas como as de hoje, foi extremamente penoso mas bem sucedido. Objectivo: “acelerar o fluxo da água através do vale e aumentar a quantidade de terra arável à volta”, lembra a estação televisiva.

O que se pretendia foi conseguido, mas aconteceu o que ninguém esperava. Peixes locais como o salmão e a truta desapareceram, afugentados pela velocidade das águas que danificara os seus habitats naturais. Aumentaram também os sedimentos arrastados pela corrente, que tornavam este curso de água mais pardacento, e ficou mais forte o risco de cheias.

Então, quando em 2012 a RSPB passou a ser responsável pela gestão de mais de 3000 hectares de terra nesta região inglesa, em Haweswater – incluindo o vale de Swindale, onde passava o rio – a organização ambientalista decidiu reverter todo o processo.

O trabalho, tal como o financiamento do projecto – que custou cerca de 230.000 euros – realizou-se em parceria com outras entidades, incluindo a proprietária das terras, a empresa de águas United Utilities, e a Agência de Ambiente britânica.

Assim, começaram por estudar o vale, para perceber qual tinha sido o percurso exacto do rio há 200 anos. Depois, em 2016, chegaram operários com escavadoras, que trataram de fazer as obras necessárias para as águas retornarem ao seu lugar original. No fim, o rio passou de ser um canal quase direito para um curso fluvial com mais curvas e contracurvas, ganhando mais 180 metros ao longo do percurso. Ao tornar-se mais natural e retorcido, as águas passaram também a correr mais devagar.

O rio antes (na foto superior) e depois das obras de renaturalização. Imagens: RSPB

Em poucos meses, foi possível ver os resultados, recorda Lee Schofield, da RSPB, em declarações à BBC. “Três meses depois de as escavadoras terem ido embora, tínhamos novamente salmão e truta a desovarem no rio.” Algo que já não acontecia há muito tempo.

“O aumento da diversidade de habitats suporta agora um número muito maior de invertebrados, que por sua vez providenciam comida vital para peixes e aves, como o melro-d’água”, acrescenta uma publicação da RSPB. “Têm sido vistas lontras a caçar ao longo do novo curso do rio.”

Schofield lembra também que voltaram a ter vegetação no rio, “onde os peixes jovens se podem abrigar”. “Há bancos de cascalho, partes profundas e cascatas. Partes do rio rasas e turbulentas onde as águas transportam oxigénio. Tudo isso beneficia a cadeia alimentar.”

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.