Falcão-da-rainha (Falco eleonorae). Foto: Mike Prince/WikiCommons

Nova aplicação vai ajudar a conservar rapinas no Mediterrâneo

A e-faunalert permite recolher dados para identificar as linhas eléctricas mais perigosas para as aves de rapina no Mediterrâneo e ajudar as empresas do sector eléctrico a resolver problemas de conservação.

“O desaparecimento de aves de rapina é um problema cada vez mais alarmante no Mediterrâneo”, alertou a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) em comunicado na semana passada.

Em especial no Norte de África estão a ser registados dados preocupantes de mortalidade de rapinas e de abutres por causa da expansão da rede eléctrica.

Para tentar ajudar estas aves, o Centro de Cooperação do Mediterrâneo da UICN (UICN-Med) apresentou a 20 de Novembro em Casablanca (Marrocos), a aplicação móvel gratuita e-faunalert.

Esta aplicação permite recolher dados sobre as linhas eléctricas e ajudar a identificar e cartografar as áreas perigosas para a vida selvagem por causa do risco de electrocussão ou colisão com estas infraestruturas.

A aplicação, disponível em Android e brevemente em iOS,foi feita a pensar em qualquer tipo de utilizador, desde o cidadão comum a cientistas, conservacionistas e técnicos governamentais e do sector da energia.

“Os dados que forem recolhidos com a aplicação poderão, de forma fácil e rápida, ajudar a identificar áreas de intervenção e assim facilitar a tomada de decisões na planificação de futuras linhas eléctricas.”

“Esta iniciativa responde às necessidades actuais de integrar tecnologias inovadoras na conservação das espécies”, comentou Violeta Barrios, coordenadora do projecto no UICN-Med. “As aves de rapina na região mediterrânica estão numa situação muito delicada.”

A aplicação tem ainda informação sobre as características técnicas dos postes de electricidade e os tipos de incidentes de electrocussão ou colisão. Também permite descarregar imagens georreferenciadas, assim como criar e aderir a grupos de trabalho para maximizar o trabalho de campo e partilhar dados com colegas, por exemplo.

A e-faunalert faz parte de um programa de acção mais amplo, iniciado em 2015, que inclui um guia de recomendações práticas sobre a gestão do impacto das redes eléctricas na biodiversidade e o intercâmbio de informação entre peritos de Espanha e de países do Norte de África e a organização de expedições transfronteiriças com ornitólogos marroquinos e espanhóis para fazer o primeiro censo nacional de aves de rapina rupícolas (ou seja, de zonas rochosas) diurnas de Marrocos.

A UICN sublinha que este trabalho de conservação das aves no Norte de África “poderá ter um grande impacto e inspirar outros projectos de conservação de aves à escala mundial”.

Esta aplicação foi desenvolvida em colaboração com a Fundación Amigos del Águila Imperial Ibérica, el Lince Ibérico y Espacios Naturales Privados, e faz parte do projecto “Safe Flyways – reducing infrastructure-related bird mortality in the Mediterranean“, financiado pela Fundación Mava.

Em Portugal, este também é um problema para as aves de rapina. Por isso, desde 2003 existe um compromisso da EDP Distribuição para a correcção de linhas eléctricas. Esta parceria envolve a empresa, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea), a Quercus e a Liga para a Protecção da Natureza e tem como objectivo a identificação e correcção de linhas eléctricas mais perigosas para as aves, em especial as espécies mais sensíveis. 

Agora é a sua vez.

Sempre que se deparar com situações recorrentes de aves electrocutadas junto a uma linha eléctrica pode avisar a Spea através deste formulário

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.