Eurythenes plasticus

Nova cara da poluição por plásticos vive a 6.900 metros de profundidade

Por todo o mundo, há cada vez mais espécies selvagens a ingerir plásticos. Agora, cientistas descobriram-nos numa nova espécie que vive na Fossa das Marianas, um dos locais mais profundos do planeta.

 

É uma espécie nova de anfípode, também conhecido por tremonha – pequenos crustáceos que vivem em todos os ambientes marinhos – e foi descrita por investigadores da Universidade de Newcastle num novo artigo publicado hoje na revista científica Zootaxa.

Esta é a nona espécie conhecida para a Ciência de Eurythenes e foi descoberta na Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico, em 2014.

 

Eurythenes plasticus

 

Chamaram-lhe Eurythenes plasticus “para chamar a atenção para a poluição por plástico que afecta milhares de espécies a nível global”, explica hoje a WWF em comunicado, entidade que apoiou a investigação.

Isto porque, os investigadores encontraram no corpo de um dos espécimes de Eurythenes plasticus tereftalato de polietileno (PET), substância presente em vários itens domésticos de uso comum, como garrafas de água e roupas de ginástica.

Os investigadores sublinham que a espécie vive a 6.900 metros de profundidade na Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico, entre o Japão e as Filipinas.

Para a WWF, a nova espécie é a nova cara da crise da poluição por plástico.

“Decidimos o nome Eurythenes plasticus, pois queríamos destacar o facto de que precisamos tomar medidas imediatas para impedir o dilúvio de resíduos plásticos nos nossos oceanos”, disse Alan Jamieson, chefe da missão de pesquisa da Universidade de Newcastle.

Esta espécie “mostra-nos o quão abrangentes são as consequências da nossa utilização excessiva e fraca gestão de resíduos plásticos”, comentou Heike Vesper, director do Programa Marinho da WWF Alemanha.

 

 

“Existem espécies que vivem nos lugares mais profundos e remotos da Terra que já ingeriram plástico antes mesmo de serem conhecidas pela humanidade. Os plásticos estão no ar que respiramos, na água que bebemos e agora também nos animais que vivem longe da civilização humana.”

Segundo a Associação Natureza Portugal (ANP) – WWF, a produção de resíduos plásticos é “altíssima” e a percentagem de itens reciclados no período de 1950-2015, foi apenas de 9%, segundo estimativas globais. Depois, 12% foi incinerado e os “restantes 80% ficaram acumulados em aterros e perdidos no ambiente”.

“Como a maior parte do lixo plástico não pode ser reciclado, acaba por ser queimado ou despejado em aterros. A partir daí, chega aos rios e, finalmente, ao oceano. Uma vez na água, a poluição por plástico decompõe-se em microplásticos e nanoplásticos, espalhando-se pelo oceano, onde é ingerido por animais marinhos como o E. plasticus.”

Em Portugal, a maior parte do lixo marinho encontrado nas praias é plástico descartável. Segundo a ANP-WWF, citando um estudo no sul de Portugal, foram observados plásticos nos tratos gastrointestinais de 22,5% das 160 aves marinhas analisadas.

“Nem todos os espécimes da nova espécie E. plasticus contêm plásticos. Portanto, ainda há esperança de que muitos mais espécimes de E. plasticus sejam isentos de plástico e que o seu nome sirva apenas de lembrança da extensão da poluição marinha por plásticos no mundo”, disse Catarina Grilo, Diretora de Conservação e Políticas da ANP|WWF.

“Para ajudar a proteger os animais marinhos (incluindo aqueles que integram a nossa alimentação), os seus habitats naturais e consequentemente a nossa saúde, é essencial que o nosso ministro do Ambiente e Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, trabalhe em direção a um tratado internacional juridicamente vinculativo para acabar com a poluição por plásticos marinhos”, reforçou a responsável.

A cada minuto de cada dia, pelo menos um camião de lixo plástico entra nos nossos oceanos. Para travar esta fuga, a WWF lançou uma petição mundial, que foi assinada por mais de 1,6 milhões de pessoas em todo o mundo. Os apoiantes pedem aos seus Governos que se comprometam a trabalhar em prol de um tratado internacional juridicamente vinculativo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.