Golfinho roaz. Foto: Cloudette_90/WikiCommons

Nova embarcação vai monitorizar golfinhos do Sado

A embarcação semi-rígida “Asa”, baptizada a 28 de Outubro, vai monitorizar, fiscalizar e investigar a população de golfinhos roazes no Estuário do Sado, anunciou o ICNF.

A população de golfinhos roazes (Tursiops truncatus) do Estuário do Sado tem actualmente 27 animais. Este ano nasceram três crias pertencentes à população residente, que se juntam a uma quarta nascida em 2019: Neptuno, Coral, Bolha e Futuro.

Golfinho roaz. Foto: Cloudette-90/WikiCommons

“A monitorização é uma das acções fundamentais do Plano de Acção para a Salvaguarda e Monitorização da População de Roazes (Tursiops truncatus) do Estuário do Sado”, salientou o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) em comunicado.

A embarcação, que foi recebida a 28 de Outubro na Marina de Tróia, foi adquirida pela Tróia-Natura a favor do ICNF. O seu objectivo é a “monitorização, fiscalização, sensibilização e investigação da população de roazes do Sado”.

Foto: António Tavares/ICNF

“Esta população, única em Portugal Continental, e uma das poucas que residem num estuário, tem sido monitorizada desde há várias décadas pelo ICNF e pela sua importância tem igualmente sido objecto de estudo e acompanhamento por parte da academia.”

A Tróia-Natura foi constituída ao abrigo de protocolo celebrado com o ICNF, para gerir os fundos provenientes do financiamento pela Concessionária do serviço público de transporte fluvial de passageiros e veículos ligeiros e pesados e mercadorias entre Setúbal e a Península de Tróia, nos termos da Declaração de Impacte Ambiental do Projeto da Marina e Novo Cais dos Ferries do TróiaResort.

Cabe-lhe destinar esses fundos a acções e medidas de monitorização, de minimização e compensação de impactes ambientais no Estuário do Sado, incluindo actividades de fiscalização.

Em 2018, a obra mereceu contestação. O “não” às dragagens no Porto de Setúbal, e em defesa do Estuário do Sado, motivou duas providências cautelares, uma petição pública com mais de 10.000 assinaturas e uma manifestação que juntou cerca de 500 pessoas em Setúbal.

Em causa estavam as obras de alargamento e aprofundamento do canal marítimo de acesso ao Porto de Setúbal, pela Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS). O objectivo do projecto, foi permitir a passagem de navios porta-contentores de maior calado.

Temia-se pelo futuro da população de golfinhos e pela biodiversidade local, entre as quais 111 espécies de peixes e 30 hectares de pradarias marinhas.

Na década de 1980, quando os cientistas começaram a estudar os golfinhos roazes do Estuário do Sado, contavam-se cerca de 40 animais. Mas as condições foram-se degradando. Em 2005 sobravam apenas pouco mais de metade – 22 – à mercê das águas poluídas.

Contudo, nos últimos 10 anos, as crias começaram a sobreviver e os golfinhos deixaram de emigrar tanto, muito graças à aplicação de regras mais pesadas quanto à qualidade e limpeza das águas e a uma diferença de postura das autoridades, que começaram a apostar no turismo de natureza. 

Estiveram presentes na recepção da embarcação o secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território, João Paulo Catarino, o presidente do ICNF, Nuno Banza e o administrador da Tróia- Natura, Pedro Bruno.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.