Nova espécie de macaco descoberta para a Ciência na Birmânia

O langur-de-Popa, que vive num vulcão extinto na Birmânia, foi agora descrito para a Ciência pela primeira vez. Um espécime com 100 anos, guardado no Museu de História Natural de Londres, foi crucial para a descoberta.

O langur-de-Popa (Trachypithecus popa) é descrito num novo artigo científico publicado hoje na revista Zoological Research

Langur-de-Popa. Foto: Thaung Win

Este macaco vive na região Centro da Birmânia e recebeu o nome da montanha Popa, que alberga a maior população da espécie, com cerca de 100 animais. 

Junta-se agora às outras 512 espécies de primatas conhecidas actualmente no mundo. 

A montanha Popa é um vulcão já extinto, onde se situa um importante santuário para a vida selvagem. É também um local sagrado de peregrinação, a “casa” dos mais venerados espíritos do país, os “Nats”.

No total estima-se que apenas restem entre 200 e 250 animais desta espécie agora descrita e estes vivem em quatro populações isoladas. 

Em toda a sua área de ocorrência, esta espécie está ameaçada pela perda de habitat e pela caça. Por isso, os investigadores defendem que a espécie deve ser classificada como Criticamente Em Perigo de extinção.

“Acaba de ser descrito e o lagur-de-Popa já está a enfrentar a extinção”, comentou Frank Momberg, da organização Fauna & Flora International (FFI), uma das entidades responsáveis pela descoberta.

Investigadores da FFI, do Centro Alemão de Primatas (DPZ), em colaboração com parceiros de outras organizações não governamentais, universidades e museus de História Natural, investigaram a história evolutiva e a diversidade de espécies dos langures da Birmânia. Foi este estudo que resultou na descrição desta nova espécie de langur.

O lagur-de-Popa difere das outras espécies já conhecidas pela coloração do seu pelo, pelo comprimento da cauda e pelo tamanho do crânio. Estudos genéticos revelaram que a nova espécie de lagur separou-se das espécies já conhecidas há cerca de um milhão de anos. O ADN usado para as análises genéticas foi obtida de amostras de fezes recolhidas por peritos da FFI na natureza, bem como de amostras de tecidos de espécimes históricos, guardados nos museus de História Natural de Londres, Leiden, Nova Iorque e Singapura.

“A análise ao ADN de um espécime de museu recolhido há 100 anos para o Museu de História Natural de Londres finalmente levou à descrição desta nova espécie, confirmada também pelas amostras colhidas no terreno pela equipa de investigadores da FFI”, explicou, em comunicado, Christian Roos, cientista do Laboratório da Genética de Primatas do DPZ.

“Os macacos são um dos grupos de mamíferos mais icónicos e estes espécimes têm estado nas colecções (dos museus de História Natural) há mais de 100 anos”, explicou, em comunicado, Roberto Portela Miguez, curador sénior dos Mamíferos no Museu de História Natural de Londres. “Mas não tínhamos as ferramentas nem o conhecimento para fazer isto antes.” Mais concretamente, este espécime foi colhido em 1913.

Na sua opinião foi graças à colaboração de várias equipas internacionais e às mais recentes técnicas de sequenciação genética que foi possível trazer esta espécie à luz da Ciência.

Agora, os investigadores e conservacionistas focam a sua atenção no futuro do Langur-de-Popa. “São precisos, urgentemente, mais expedições e medidas de conservação e serão concretizadas pela FFO e por outros para salvar os langures da extinção”, garantiu Ngwe Lwin, primatólogo da FFI na Birmânia.

Roberto Portela Miguez espera que esta descrição da espécie consiga ajudar a conservá-la. “A esperança é que ao dar a esta espécie o estatuto científico e a notoriedade que merece, que haja ainda mais colaboração de esforços para proteger o seu habitat e as poucas populações que restam.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.