Nove flamingos presos em rede de piscicultura recuperados em hospital de vida selvagem

Dezoito flamingos chegaram ao RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens, em Olhão, em meados de Dezembro. Dez chegaram vivos. Destes, seis já foram devolvidos à natureza, um morreu e três ainda estão em recuperação.

Os 10 flamingos foram os únicos animais dos 24 que ficaram presos numa rede de piscicultura que chegaram vivos ao RIAS. Os outros – garças, gaivotas, corvos-marinhos, galeirões e colhereiros – não tiveram a mesma sorte.

Ainda assim, um dos flamingos acabou por não sobreviver.

Três flamingos em recuperação no RIAS. Foto: RIAS

“Os animais chegaram extremamente stressados e com dificuldade em manter-se em pé devido à posição em que tiveram que ser transportados (dentro de caixas)”, explicou à Wilder Vera Marques do RIAS. 

“Os seis flamingos que estiveram menos tempo presos nas redes apresentavam ferimentos leves e/ou edemas menos graves, o que permitiu uma recuperação mais rápida.”

Estas aves aves foram devolvidas à natureza em semanas diferentes, antes e depois do Natal. O local escolhido foi a Quinta de Marim, onde o RIAS se localiza.

Foto: RIAS

“A zona de sapal/salinas é ideal para as necessidades desta espécie e, para nossa alegria, existia mesmo um bando de flamingos no local, a que se puderam juntar.”

Foto: RIAS

Os restantes três flamingos tinham “ferimentos bastante profundos”, provocados pelos fios da rede em que estiveram presos. Por isso, acrescentou Vera Marques, “a sua recuperação será mais demorada. Foi mesmo necessário suturar ferimentos, administrar medicação para prevenir infeções e fazer uma monitorização cuidada a estes animais.”

Os três flamingos que continuam em recuperação estão numa instalação exterior adequada a aves limícolas, onde são monitorizados diariamente no momento da alimentação pela equipa de reabilitação. Para além disto, a debridagem (limpeza) dos ferimentos e o peso é verificado uma vez por semana pela equipa veterinária do RIAS.

Foto: RIAS

“Os flamingos são aves que apresentam um elevado grau de stress quando fora do seu habitat natural e, por isso, a sua recuperação é sempre um grande desafio”, explicou Vera Marques. “Dada a especificidade de habitat desta espécie, é muito importante que haja enriquecimento ambiental, de forma a minimizar o stress. Desta forma, nas várias instalações por onde têm passado, foram colocadas canas altas como barreira visual para que se sintam protegidos.” Além disso, “ajuda bastante o facto de estarem em grupo pois são aves com um elevado grau de relações sociais”. 

Por enquanto, “é impossível assegurar com certeza a recuperação destas aves”, adverte a responsável. Mas “a equipa está confiante de que irão recuperar”.

Esta não foi a primeira vez que o RIAS recebeu animais que estiveram presos em redes de piscicultura. “Todos os anos recebemos animais que foram resgatados de redes de piscicultura. Por exemplo, o ano passado nesta situação recebemos dois corvos-marinhos-de-faces-brancas (um foi libertado e o outro chegou já sem vida) e uma águia-pesqueira que conseguimos recuperar e devolver novamente à natureza.”

O problema não se verifica apenas no Algarve. Por exemplo, em Fevereiro de 2020, uma águia-de-Bonelli foi encontrada morta numa rede de protecção numa piscicultura, na Figueira da Foz.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.