Lince-ibérico. Foto: MITECO

Novo censo revela que existem 1.668 linces-ibéricos no mundo

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Tem sido uma guerra difícil contra a extinção mas já são várias as conquistas. Hoje soube-se que existem 1.668 linces-ibéricos no mundo. O Vale do Guadiana é o terceiro núcleo populacional mais importante.

No espaço de um ano, o mundo ganhou mais 303 linces-ibéricos (Lynx pardinus), o felino das barbas e dos pêlos em forma de pincel na ponta das orelhas que outrora foi abundante na Península Ibérica. Este mítico animal protagonizou uma história de luta pela sobrevivência, tendo chegado a estar virtualmente extinto em Portugal.

Lince-ibérico. Foto: MITECO

A perseguição humana e a escassez de coelhos – agravada por duas doenças: a mixomatose (nos anos 50) e a febre hemorrágica viral (nos anos 80) – foram as principais causas desse declínio populacional, que começou na década de 1950, isto depois de, em meados do século XIX, terem existido cerca de cem mil linces, espalhados por toda a Península Ibérica.

Ao quase desaparecimento do coelho-bravo e à caça indiscriminada juntou-se ainda a perda de habitat pelas campanhas agrícolas e de reflorestação com eucalipto e pinheiro-manso, que destruíram os matagais mediterrânicos desde a primeira metade do século XX.

Novo recorde

O último censo, relativo a 2021, contabilizou 1.365 animais; em 2022 o número subiu para os 1.668, revelou hoje o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a par do Ministério espanhol para a Transição Ecológica e Desafio Demográfico (MITECO).

“Estes números constituem o máximo numérico registado desde que existem programas de conservação da espécie e supõem um aumento muito significativo, tendo em conta que em 2002 apenas foram contabilizados menos de 100 exemplares”, comentou, em comunicado, o ministério espanhol.

Esta é a face visível do trabalho de centenas de pessoas no campo e na rede ibérica de cinco centros de reprodução em cativeiro – onde nasceram 338 linces que, desde 2011, têm sido reintroduzidos na natureza – para garantir que o lince-ibérico recupera os seus territórios históricos.

Hoje já ocupa 15 núcleos populacionais, 14 em Espanha – seis núcleos na Andaluzia, quatro em Castela-La Mancha e quatro na Estremadura – e um em Portugal, designado por Vale do Guadiana.

Portugal tem agora 261 linces (15,7% do total); destes, 175 são animais adultos ou subadultos. Vivem no Vale do Guadiana, em três subnúcleos: Mértola (distrito de Beja), Serpa (também no distrito de Beja) e Alcoutim (no distrito de Faro).

Crias de lince-ibérico. Foto: MITECO

A população portuguesa tem 49 fêmeas reprodutoras na natureza, que geraram 86 crias durante a temporada reprodutora de 2022.

Em Espanha vivem 1.407 linces (84,3% do total). A região com mais linces continua a ser a Andaluzia, com 627 animais (37,6% do total), seguida de Castela-La Mancha (585, 35,0%) e Estremadura (195, 11,7%).

Segundo este censo, os núcleos populacionais mais importantes são os que ficam na zona da Serra Morena (com um total de 782 linces), na zona dos Montes de Toledo (272), no Vale do Guadiana (261) e na zona de Matachel (138).

No total, as equipas técnicas contabilizaram em 2022 um total de 563 nascimentos de 326 fêmeas reprodutoras.

A população ibérica deste felino tem vindo a aumentar todos os anos desde 2015. No entanto, a sobrevivência da espécie ainda não está garantida.

O censo à espécie foi feito pelas autoridades ambientais competentes, com a colaboração de organizações não-governamentais.


Recorde os principais marcos na história da conservação da espécie.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.