Corvo-marinho-de-crista ou galheta. Foto: Andreas Trepte/WikiCommons

Novo censo revela que Portugal tem 101 casais de corvo-marinho-de-crista

Segundo um novo censo existem 1.993 casais desta espécie Vulnerável na Península Ibérica, 101 dos quais em Portugal.

O censo, relativo a 2017, revela que Portugal tem 101 casais, Espanha peninsular tem 1.886 casais e Gibraltar seis casais, informou na semana passada a Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife).

Corvo-marinho-de-crista ou galheta. Foto: Andreas Trepte/WikiCommons

O corvo-marinho-de-crista ou galheta (Phalacrocorax aristotelis), uma das aves marinhas mais emblemáticas da Península Ibérica, está classificada como Vulnerável pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005).

De acordo com este novo censo ibérico – feito pela SEO/Birdlife e pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) -, a população de corvo-marinho-de-crista em Portugal é composta por 101 casais reprodutores e 29 ninhos com reprodução provável, todos localizados na costa continental de Portugal e no arquipélago das Berlengas.

A população portuguesa desta espécie reparte-se por nove colónias, ao longo da costa continental e Berlengas. A maioria, 67% dessas colónias, tem um tamanho que varia entre os dois e os cinco casais. Apenas 11% das colónias têm entre 51 e 100 casais (no arquipélago das Berlengas).

Na verdade, é o arquipélago das Berlengas que alberga a maior população de corvo-marinho-de-crista em Portugal. Aqui foram seguidos 61 casais ao longo de toda a época reprodutora, dos quais resultaram 81 crias.

Corvo-marinho-de-crista ou galheta com crias. Foto: MPF/WikiCommons

A segunda colónia mais importante situa-se em Setúbal, com 20 casais.

No distrito de Lisboa foram encontrados dois casais. Mais a Sul foram registados três casais na zona entre o Cabo Sardão e a Zambujeira do Mar, cinco casais em Monte Clérigo/Arrifana e outros cinco casais entre Sagres e Lagos.

A população de corvo-marinho-de-crista em Espanha é de 1.886 casais. A costa do Norte tem a maioria da população peninsular. O censo destaca a importância da população da Galiza, que representa quase 75% da população (com 861 casais em Pontevedra e 456 na Corunha), seguida da costa das Astúrias, com 186 casais. As restantes províncias espanholas têm menos de 100 casais.

“No geral, há um ligeiro aumento da população de corvo-marinho-de-crista à escala global, mas detecta-se uma alta mortalidade em determinadas zonas costeiras, numerosas ameaças e o declínio em determinadas zonas, o que faz prever que a evolução seja negativa nos próximos anos”, escreve a SEO/Birdlife em comunicado.

“O habitat marinho costeiro é um dos ecossistemas que atualmente sofre maior pressão humana”, disse Domingos Leitão, director-executivo da SPEA. “Excesso de pesca, perturbação pelas atividades de recreio e lazer, poluição e des- truição do habitat são ameaças graves para a galheta e para o seu ecossistema costeiro.”

De facto, houve uma “redução importante” na população desta espécie desde o censo anterior, de 2002. O maior declínio foi registado nas Berlengas. Ainda assim, aumentou o número de casais na zona da Arrábida – Cabo Espichel. 

Corvo-marinho-de-crista ou galheta. Foto: Andreas Trepte/WikiCommons

Por isso, “é prioritário conhecer as populações de espécies como esta para poder tomar decisões quanto à sua conservação e protecção”, diz Juan Carlos del Moral, coordenador da Ciência Cidadã da SEO/Birdlife e do actual censo.

Mas em Portugal, por exemplo, apenas a população do arquipélago das Berlengas é alvo de censos anuais, de acordo com o Plano de Gestão da Reserva Natural das Berlengas.

As restantes populações não estão incluídas em nenhum plano de seguimento, mas foram alvo de censos, na sua maior parte, pela SPEA em 2017.

Este censo ibérico – realizado nas temporadas reprodutoras de 2016 e 2017 – actualiza os dados da maior parte da população ibérica. Em Portugal, o último censo nacional foi feito em 2002; em Espanha foi feito em 2006/2007.

Em Portugal, o censo foi realizado com base nas zonas prospectadas ou nas colónias identificadas em censos prévios. No geral, o censo decorreu na costa rochosa entre Lagos e Peniche e no arquipélago das Berlengas. Na península de Sagres não foi possível realizar o censo entre a Ponta da Baleeira e Pedra das Gaivotas devido às condições do mar.


Saiba mais.

Saiba mais aqui sobre o corvo-marinho-de-crista, escolhida como Ave do Ano pela SPEA em 2017.

Descubra aqui como distinguir as duas espécies de corvos-marinhos que ocorrem em Portugal.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.