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Foto: Joana Bourgard / Wilder

Novo director da Spea quer entusiasmar as pessoas pela conservação das aves

Aos 48 anos, Domingos Leitão é o novo director-executivo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea). A Wilder falou com o responsável sobre as suas prioridades e maiores desafios. Envolver e entusiasmar as pessoas pela conservação está no topo da agenda.

 

A Spea, onde trabalham mais de 60 pessoas, não é terreno novo para Domingos Leitão. Na verdade, ele foi um dos seus sócios fundadores e nos últimos 14 anos tem sido o coordenador do Departamento de Conservação Terrestre nesta organização.

Desde 1 de Outubro veste a pele de director-executivo, sucedendo a Luís Costa. Domingos Leitão, doutorado em Ecologia e Biossistemática pela Universidade de Lisboa, avançou hoje à Wilder que o trabalho de conservação vai continuar, com especial atenção às espécies de aves ameaçadas. “Entre as questões urgentes está o trabalho a fazer pelos abutres e pelas aves de rapina, por exemplo. (…) Não podemos abrandar”, comentou. Outra espécie referida é o sisão que, segundo o último censo, “sofreu um decréscimo superior a 50% nos últimos 10 anos”. Nem todas as aves são casos de sucesso, como o priolo e a abetarda, salientou.

Mas para o conseguir é preciso fazer algumas melhorias, disse. “Nos últimos três a quatro anos houve um decréscimo no número de sócios.” Actualmente a Spea tem cerca de 3.500 sócios registados, mas “activos e com as quotas em dias não chegam aos 1.500”. Domingos Leitão quer desenhar uma estratégia para angariar novos sócios e para envolver e entusiasmar os actuais. “Sentimos que nos últimos tempos, o ânimo na conservação das aves tem diminuído. Queremos encontrar formas de entusiasmar e envolver mais as pessoas, para que proponham mais coisas, para que participem.”

Em cima da mesa está também a coordenação da nova estratégia da Spea para os próximos cinco anos, sendo que a actual termina já em 2017, uma melhor comunicação, nomeadamente “dos resultados dos programas de monitorização que fazemos, desde os atlas aos censos” e a procura de uma nova sede para a organização.

Domingos Leitão considera como desafios para o futuro a gestão das espécies cinegéticas, como a rola-comum, a questão do chumbo usado nas munições dos caçadores e a gestão da Rede Natura 2000, conjunto de áreas reconhecidas como prioritárias para a natureza na Europa. Hoje, estas áreas ocupam 15% do território europeu. Ainda assim, disse o responsável, “a sua gestão é extremamente débil ou ausente. Estamos a perder espécies”.

Segundo Domingos Leitão, “é preciso mais financiamento para gerir bem a Rede Natura 2000”, para investir em novos negócios sustentáveis nessas áreas e apoiar os agricultores que criem biodiversidade. “Actualmente há apoios para olivais intensivos, para regadio, mas não há instrumentos alternativos para uma agricultura que crie biodiversidade”, salientou. Na sua opinião, “é preciso um fundo próprio para a Rede Natura 2000, para a Conservação, assim como há fundos para a agricultura, para as pescas e para o desenvolvimento regional. Caso contrário, o financiamento não é canalizado para a natureza. E o que é, é insuficiente. É preciso mudar o paradigma da conservação na Europa e a Spea vai tentar influenciar para que isso aconteça.”

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

A Spea é uma organização não-governamental de ambiente sem fins lucrativos que promove o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal. Foi fundada a 25 de Novembro de 1993 e hoje tem projetos em Portugal e também em parceria em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Malta e Grécia.

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Se observar uma ave que não conhece mas gostaria de saber qual é pode enviar uma fotografia da ave ou uma descrição para [email protected] para que um dos técnicos da organização lhe dê uma ajuda.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.