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Foto: Joana Bourgard / Wilder

Novo estudo alerta: a sexta extinção em massa está a ganhar velocidade

A sexta extinção em massa de vida selvagem na Terra está a tornar-se mais rápida e pode ser “a mais séria ameaça ambiental à persistência da civilização”, alerta uma análise científica agora publicada.

 

Em 2015, um grupo internacional de cientistas publicou um estudo a declarar que a sexta extinção em massa está realmente a acontecer. Agora, cinco anos depois, um novo artigo liderado por dois desses investigadores – Gerardo Ceballos e Paul R. Ehrlich – avisa que a velocidade de desaparecimento das espécies é provavelmente muito mais alta do que pensavam.

“A actual sexta extinção em massa poderá ser a mais séria ameaça ambiental à persistência da civilização, porque é irreversível”, alerta também este artigo científico publicado a 1 de Junho, na Proceedings of the National Academy of Sciences.

Os investigadores estimam que ao longo do século XX se extinguiram pelo menos 543 espécies de vertebrados terrestres, desde mamíferos a répteis, aves e anfíbios. Acreditam agora que quase tantas das espécies actuais de vertebrados correm um risco sério de extinção – e isto só nas duas próximas décadas.

 

Leopardo de Amur, uma das espécies em Perigo Crítico de extinção a nível mundial. Foto: Alexander Leisser/Wiki Commons

 

A equipa alerta para a origem humana do problema, incluindo o comércio de vida selvagem, a poluição, a destruição de habitats e as alterações climáticas. Isso já estará a ter um “efeito de dominó” com o aumento das ameaças à vida humana, como é o caso do novo coronavírus, o Covid-19.

“Quando a humanidade extermina populações e espécies de outras criaturas, está a serrar e a deitar fora o ramo no qual está sentada, destruindo partes activas do seu próprio sistema de suporte à vida”, afirmou Paul Ehrlich, biólogo ligado à Universidade de Stanford, numa nota divulgada sobre o novo estudo.

“A conservação de espécies ameaçadas deveria ser elevada a emergência nacional e mundial pelos governos e instituições, igual às disrupções do clima às quais está ligada”, sublinhou.

 

Há 515 vertebrados terrestres à beira da extinção

A equipa avaliou a abundância e distribuição de espécies criticamente ameaçadas. Concluiu que 515 espécies de vertebrados terrestres – 1,7% das espécies analisadas – estão à beira da extinção pelo facto de terem menos de 1000 indivíduos. E dessas, cerca de metade têm apenas cerca de 250 animais vivos.

 

Macho de orangotango no Bornéu, outra espécie fortemente ameaçada. Foto: Eleifert/Wiki Commons

 

Por outro lado, tem ocorrido uma perda cumulativa de populações – ou seja, dos grupos individuais e localizados de cada espécie – e de áreas de distribuição. Os cientistas estimam que as mesmas 515 espécies perderam um total de 237.000 populações desde 1900.

Muitos destes animais concentram-se em regiões tropicais e subtropicais. O problema é que “com menos populações, as espécies são incapazes de servirem a sua função num ecossistema”, avisam. À medida que certas espécies caem, “as espécies com as quais interagem também deverão desaparecer”. E sublinham que “a extinção alimenta a extinção”

Foi o que aconteceu no século XVII com a sobrecaça de lontras marinhas. Acredita-se que a diminuição desses animais – os principais predadores de medusas que se alimentam de kelp – levou à extinção da vaca-do-mar-de-Steller. É que esse animal marinho também dependia das mesmas algas.

 

Oportunidade final

“O que fizermos para lidar com a actual crise de extinção nas próximas duas décadas vai definir o futuro de milhões de espécies”, acredita o autor principal do estudo, Gerardo Ceballos, investigador na Universidade Autónoma do México. “Temos a nossa última oportunidade para assegurar que os muitos serviços que a natureza nos fornece não são sabotados irreparavelmente.”

Uma vez que a extinção de uma espécie tem um efeito de dominó com o risco de desaparecimento de outras, os cientistas analisaram também possíveis interligações. Concluíram que 84% das espécies com populações inferiores a 5.000 indivíduos vivem nas mesmas áreas de espécies com menos de 1.000.

Por causa dessa ameaça, apelam agora a que todos os animais com populações inferiores a 5.000 indivíduos sejam considerados Em Perigo Crítico de extinção na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. Ficariam assim debaixo de olho no que respeita aos esforços de conservação.

A equipa propõe também que seja proibido a nível mundial o comércio de animais selvagens, pois a captura ilegal e a caça “são uma importante ameaça em curso, não apenas para espécies à beira da extinção mas também para a saúde humana.”

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.