Nunca se tinham visto tantos abutres-pretos em Mogadouro, no Douro Internacional

Pelo menos oito abutres-pretos foram registados num só dia no campo de alimentação para aves necrófagas em Mogadouro, o maior número destas aves até agora registado num campo de alimentação no Douro Internacional.

 

De acordo com a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, que gere este campo de alimentação, as imagens foram captadas por foto-armadilhagem no dia 7 de Maio. A associação lembra que até hoje estão apenas identificados dois casais nidificantes desta espécie no Parque Natural do Douro Internacional.

O abutre-preto (Aegypius monachus) está Criticamente em Perigo de extinção, de acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, de 2005, existindo para já apenas três núcleos reprodutores da espécie no país.

 

Sete abutres-pretos no campo de Mogadouro, numerados. Foto: Palombar

 

Ainda assim, o número de abutres-pretos que recorreram ao campo de alimentação de Mogadouro – onde regularmente são disponibilizados alimentos para as aves necrófagas, tal como em outras estruturas semelhantes – pode ter sido superior aos oito que foram identificados.

 

O oitavo abutre-preto avistado no dia 7 de Maio, numerado. Foto: Palombar

 

“Há várias imagens com um número variado de indivíduos da espécie em que não é possível confirmar, nalgumas, se os indivíduos se repetem ou se são novos”, descreve a Palombar. “Os exemplares registados estiveram cerca de duas horas a alimentar-se e a descansar.”

A presença de abutres-pretos é “frequente” neste campo de alimentação e noutras estruturas semelhantes na região, adianta a associação, segundo a qual têm sido registadas por várias vezes “cinco a sete indivíduos a alimentarem-se ao mesmo tempo”.

 

Sinais de esperança

Embora não seja possível saber a proveniência dessas aves, agora foi registado “um novo recorde”, sublinham, o que “representa uma esperança de que possa nascer uma nova colónia” no Parque Natural do Douro Internacional a longo prazo.

O abutre-preto deixou de se reproduzir em Portugal no início da década de 70, mas manteve-se presente nas zonas fronteiriças do Centro e Sul do país, com aves que vinham de Espanha. Voltou a nidificar em território português no Parque Natural do Tejo Internacional, em 2010, onde hoje está a maior colónia.

 

abutre-preto em cima de uma rocha
Foto: Francesco Veronesi/Wiki Commons

 

Dois anos depois, registou-se o primeiro casal nidificante no Douro Internacional, e o segundo em 2019. Um terceiro núcleo está situado na região do Alentejo.

De acordo com a associação, “os campos de alimentação de aves necrófagas têm provado ser uma ferramenta fundamental para a conservação de espécies estritamente e/ou parcialmente necrófagas ameaçadas, não só na Península Ibérica como também na Europa”. Além do abutre-preto, estão em causa espécies como a águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti) e a águia-real (Aquila chrysaetos).

 

A maior rapina da Europa

Esta espécie é a maior ave de rapina da Europa e tem uma envergadura de asas que pode chegar quase aos três metros, lembra a Palombar, que nota que “mesmo à distância, o seu tamanho é notório.”

 

Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

 

Estes abutres planam “no céu em círculos” e deslizam “com as asas muitas vezes com as partes exteriores arqueadas para baixo”, aproveitando as correntes de ar térmicas para voar a grandes altitudes. Preferem habitar em regiões de acesso difícil e com pouca população são aves exclusivamente necrófagas, alimentando-se principalmente de carcaças de médio e grande porte – tanto ungulados silvestres como gado doméstico (ovelhas, cabras e vacas).

Estas aves praticam “um sistema cooperativo de procura de alimento” com os grifos, sendo habitual ver as suas espécies a alimentarem-se juntas. Estão associadas a zonas de criação tradicional de gado bovino e ovino.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.