O livro sobre extinção das espécies que venceu um Pulitzer

A extinção em massa das espécies não é coisa que pertença só ao passado. A jornalista norte-americana Elizabeth Kolbert obrigou-nos a olhar de frente para o desaparecimento de plantas e animais. E fê-lo tão bem que ganhou o Prémio Pulitzer 2015 de não-ficção com o livro “The Sixth Extinction: An Unnatural History”.

“Olha à tua volta. Mata metade do que vês. Ou, se te sentires generosa, mata apenas um quarto daquilo que vês. É disto que podemos estar a falar.” Esta é a citação de um investigador que falou com Elizabeth Kolbert, jornalista de 54 anos da revista “New Yorker”, e que faz parte do seu livro. Nele, Kolbert conta o que viu nas suas viagens pela linha da frente da luta pela sobrevivência de milhares de espécies. Atravessou rios no Panamá, à noite, para tentar encontrar sapos dourados de El Valle, que hoje existem apenas em cativeiro; embrenhou-se na floresta da Amazónia para mapear os efeitos da perda de habitats na biodiversidade; acompanhou biólogos marinhos que estudam a Grande Barreira de Coral e seguiu botânicos até ao Peru para analisar a flora nos cumes dos Andes.

Publicado em Fevereiro de 2014 pela editora Henry Holt, “The Sixth Extinction: An Unnatural History”  – e em Junho de 2014 em Portugal pela editora Vogais – já vendeu mais de 200.000 exemplares e foi escolhido pelos jornais “New York Times” e “Washington Post” como um dos melhores dez livros de 2014.

Na crítica ao livro do “New York Times”, o antigo Presidente norte-americano Al Gore escreveu que “Elizabeth Kolbert é um dos melhores autores americanos de escrita científica”.

No final de Abril, o comité dos Pulitzer distinguiu-o com o prémio para não-ficção, no valor de 10.000 dólares (cerca de 8,9 mil euros), considerando a obra “uma exploração da natureza que força os leitores a considerar a ameaça que o comportamento humano impõe a um mundo de uma diversidade surpreendente”.

O livro começou como um artigo para a revista “New Yorker”, com o título “The Sixth Extinction” sobre a extinção das populações de anfíbios no Panamá. Partes do livro foram publicadas no final de 2013 na série de dois capítulos “The Lost World” na mesma revista. Neles conta como Jean-Léopold Nicholas Frédéric Cuvier foi, no final do século XVIII, o pai da teoria da extinção das espécies. Kolbert visitou o Museu de História Natural de Paris, onde Cuvier trabalhou. “Tassy (Pascal Tassy é professor especializado em Paleoecologia no Museu) abriu um dos armários de metal e colocou o seu conteúdo em cima de uma mesa de madeira. Estes eram alguns dos dentes de mastodonte que Cuvier manuseou”, escreve Kolbert no artigo da “New Yorker” de 16 de Dezembro de 2013. “’Este é a ‘Mona Lisa’ da paleontologia’, disse Tassy, apontando para o maior do grupo. ‘É o começo de tudo’ (…). Peguei nele com as duas mãos. Era, de facto, um objecto fantástico.”

O prémio Pulitzer é tanto um reconhecimento do poder da escrita de Kolbert como da urgência do tema. O planeta já passou por cinco extinções em massa, a última das quais fez desaparecer os dinossauros. A sexta, a decorrer neste momento, está a eliminar milhares de espécies. “Desta vez, o cataclismo somos nós”, escreve a jornalista.

Gillian Blake, a editora do livro na Henry Holt, disse ao site de notícias Daily Beast que Kolbert “é uma fantástica escritora de não ficção”, capaz de escrever sobre a extinção das espécies e sobre o potencial fim da Humanidade de uma forma “intelectualmente interessante e sem ser deprimente”.

“Desde o início que ela queria que o livro fosse sobre a história da extinção que está a acontecer agora mas também sobre a história da compreensão que as pessoas têm do que é a extinção. O que é brilhante no livro é a forma como Kolbert conseguiu entrelaçar esses dois fios tão naturalmente.”

Kolbert também escreveu o livro “Field Notes from a Catastrophe: Man, Nature and Climate Change” (2006).

 

[divider type=”thin”]Leia aqui um excerto do livro “The Sixth Extinction” (em inglês).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.