Obra na Alemanha obriga a transferir milhares de lagartos de espécies protegidas

Uma grande obra ferroviária na zona de Estugarda, no Sul da Alemanha, vai obrigar a investir 15 milhões de euros na transferência para outro local de milhares de lagartos de duas espécies protegidas, encontrados ao longo do percurso previsto para a nova via.

 

O projecto é conhecido por Stuttgart 21 e vai ligar a sexta maior cidade alemã a outras localidades, no âmbito da rede transeuropeia de comboios.

O lagarto-ágil (Lacerta agilis), e a lagartixa-dos-muros (Podarcis muralis) foram as duas espécies encontradas ao longo do percurso previsto para uma das novas linhas, que vai ligar Estugarda a Ulm, a cerca de 100 quilómetros.

As duas estão listadas no Anexo IV da Directiva dos Habitats, que assegura a conservação de mais de 1000 espécies de plantas e animais na União Europeia. Ambas ocorrem em numerosos países, mas não em território português.

Desde que os répteis foram encontrados – um pequeno grupo de lagartos-ágeis e vários milhares de lagartixas-dos-muros –  discussões entre ambientalistas e construtores atrasaram o projecto em cerca de 18 meses, indica o jornal The Guardian.

 

Foto: Lagartixa-dos-muros (Podarcis muralis). Foto: Böhringer Friedrich/Wiki Commons

 

Agora, a Deutsche Bahn, uma das empresas alemãs envolvidas na obra, calcula que terá de investir 15 milhões de euros na deslocação dos animais – entre 2.000 e 4.000 euros por indivíduo. Vão ser apanhados por especialistas, com a ajuda de redes, para serem transportados para o seu novo território em Untertürkheim, a quase 10 quilómetros de distância.

Os custos incluem o transporte dos lagartos, a contratação das equipas, o planeamento do seu novo habitat e a monitorização do seu bem-estar. Associações ambientalistas defendem que a despesa poderia ser mais baixa se a Deutsche Bahn tivesse começado a lidar com esta questão mais cedo, uma vez que os répteis foram detectados em Março de 2015.

 

Lagarto-ágil (Lacerta agilis). Foto: © Christoph Caina / Wikimedia Commons / CC BY 3.0

 

Ainda antes da descoberta destas espécies protegidas, esta grande obra ferroviária já era alvo de críticas e manifestações. Anunciada pela primeira vez em 1994, começou apenas em 2010, contra a vontade de uma parte importante da população que considerava os custos do projecto demasiado elevados e opacos.

Actualmente, prevê-se que a obra vai custar entre 6,3 mil milhões e 10 mil milhões de euros, para a nova linha começar a operar em 2021.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.