Tubarão-azul. Foto: Mark Conlin/NMFS/WikiCommons

Oito factos sobre os tubarões portugueses que precisa de saber

Nuno Queiroz, investigador do CIBIO-InBIO especializado em peixes predadores e no seguimento de tubarões azuis por satélite, dá-lhe oito factos sobre estas fantásticas espécies.

 

Dias depois de ter sido avistado um tubarão a 2 de Agosto na zona da praia algarvia do Barril, em Tavira – que levou ao içar da bandeira vermelha nas praias entre a ilha de Tavira e do Barril – e em plena Shark Week no Canal Discovery (9 a 16 de Agosto), Nuno Queiroz, 42 anos e investigador do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos CIBIO/InBIO da Universidade do Porto, respondeu às perguntas da Wilder sobre estes fantásticos animais.

 

WILDER: Quantas espécies de tubarões ocorrem na nossa costa?

Nuno Queiroz: Existem cerca de 40 espécies de tubarões na costa portuguesa.

 

W: Quais são as espécies mais comuns?

Nuno Queiroz: As mais comuns são o tubarão-azul, o tubarão-anequim, a pata-roxa e muitas espécies de águas profundas como o carocho e o barroso.

 

W: Como utilizam a costa portuguesa?

Nuno Queiroz: Depende da espécie. Os anequins são sobretudo migradores, mas espécies de alto-mar como o tubarão-azul também usam a nossa costa como berçário – local onde os tubarões dão à luz – e são comuns praticamente o ano todo. Algumas espécies de mar profundo são residentes.

 

W: Há alguma altura do ano em que eles se aproximem mais da costa? Porquê?

Nuno Queiroz: Mais uma vez depende da espécie. Falando das espécies oceânicas como o tubarão-azul e o anequim,  este último é mais comum quando a temperatura da água aumenta no Verão, mas não é comum aproximar-se da costa. Já os tubarões azuis adultos são bastante comuns ao largo da costa o ano todo, mas os avistamentos aumentam no Verão porque simplesmente há um maior número de pessoas no mar. Os tubarões azuis juvenis nascem no final da Primavera e é comum aparecerem perto da costa e mesmo nas praias. Mas mais uma vez, os avistamentos aumentam no Verão por haver um maior número de pessoas no mar e na praia.

 

W: Os tubarões vivem a que profundidades?

Nuno Queiroz: As espécies de mar alto vivem da superfície até cerca de 1700 metros, que foram os mergulhos mais fundos que registámos no seguimento de satélite que fazemos destas espécies – tubarão-azul e anequim. Quanto às espécies de mar profundo, podem viver até cerca de 3500 metros de profundidade.

 

W: Que outros peixes predadores ocorrem mais frequentemente no mar português? 

Nuno Queiroz: Há bastantes espécies de mega-predadores, como por exemplo atuns, espadartes e espadins.

 

W: E quais são as maiores ameaças?

Nuno Queiroz: Estes peixes são ameaçados sobretudo pela pesca comercial, pelas alterações climáticas e pela conjugação de ambas.

 

W: Ainda há muito por saber? Quais são hoje as principais linhas de investigação referentes aos peixes mega-predadores?

Nuno Queiroz: Não posso falar de linhas de investigação que não conheço, mas a principal linha de investigação que vou seguir nos próximos anos está ligada ao estudo da perda de oxigénio no mar e como esta diminuição afecta diretamente o comportamento dos tubarões. É algo incógnito atualmente.

 

W: O que seria necessário fazer para proteger os tubarões e os outros grandes peixes?

Nuno Queiroz: Em relação à pesca comercial podem-se criar quotas de pesca – actualmente não existem limites à pesca do tubarão-azul, por exemplo, embora haja intenção de as impor – ou identificar zonas onde a sobreposição com as frotas de pesca é maior e criar zonas de protecção marinha, inclusivamente no mar português. Em relação às alterações climáticas serão sobretudo importantes medidas de longo termo que levem à diminuição, ou pelo menos estabilização, da temperatura média global.

 

 

[divider type=”thick”]Perfil do investigador Nuno Queiroz:

 

W: O que fazes?

Nuno Queiroz: Estudo sobretudo o comportamento e movimento de grandes predadores pelágicos (tubarões e atuns) com a ajuda de telemetria de satélite.

 

W: Onde e quando começaste?

Nuno Queiroz: No CIBIO/InBIO. Comecei a utilizar transmissores de satélite durante o meu doutoramento que se iniciou em 2006.

 

W: Como aprendeste a fazer este trabalho?

Nuno Queiroz: Com o meu orientador de doutoramento, o professor David Sims, que já colocava transmissores de satélite em tubarões-frade no início dos anos 2000.

 

W: Quando começaste, o que pensavas que querias fazer?

Nuno Queiroz: Em 2006, quando comecei, a área do meu doutoramento foi exatamente aquela que queria ter feito: estudo focado nos movimentos do tubarão-azul através de telemetria por satélite.

 

W: O que ainda te falta fazer?

Nuno Queiroz: Como disse, actualmente vamo-nos focar no impacto que as alterações climáticas e a perda de oxigénio no mar poderão vir a ter nos movimentos e distribuição de algumas espécies de tubarões e atuns. Para isso desenvolvemos recentemente o nosso próprio logger para medir diretamente os níveis de oxigénio na água. É algo inédito.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.