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Óleos velhos da cozinha vão transformar-se em detergentes ecológicos

O que fazer ao óleo que usámos para fritar batatas? Um grupo de químicos da Universidade de Coimbra obteve um financiamento de 700.000 euros para transformar este produto num detergente ecológico, afastando esses resíduos dos cursos de água.

 

A iniciativa, anunciada esta segunda-feira, está nas mãos da EcoXperience, uma startup formada em 2016 por estes investigadores, ligados à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

A verba de 700.000 euros foi atribuída pelo programa Portugal 2020, que gere os fundos comunitários.

A equipa vai desenvolver uma cápsula “100 por cento ‘verde'” que converte os óleos alimentares usados em diferentes detergentes, para lavar o chão, os vidros e a loiça, entre outros, “de forma praticamente automática e a baixo custo”, afirma um comunicado da universidade.

 

membros da equipa
Parte da equipa que vai desenvolver a nova cápsula. Foto: UC

 

Os óleos de cozinha são altamente poluentes, pois “basta um litro de óleo para contaminar até um milhão de litros de água”. Uma vez que óleo e água não se misturam, o primeiro cria uma película que impede a oxigenação regular da água, o que pode levar à asfixia dos organismos marinhos.

A nova cápsula, que pretende ajudar a combater este problema, foi baptizada de One-N-Done e está previsto que chegue ao mercado dentro de dois anos. Além de uma dezena de investigadores ligados ao Departamento de Química da FCTUC, deste projecto fazem também parte a empresa Tecnocanto e o grupo Sonae.

Até agora, a equipa criou uma tecnologia que transforma “os óleos usados em agentes de limpeza através de uma proteína que funciona como biocatalizador”, e que está neste momento em processo de patenteamento. Em causa está o recurso a uma proteína que existe no corpo humano, produzida pelo pâncreas, com a função de digerir as gorduras que ingerimos.

A nova cápsula vai ser produzida tanto para a indústria como para ser usada em casa. Vai ser “idêntica à que colocamos na máquina de lavar roupa ou loiça, ‘recheada’ com todos os agentes necessários para a transformação do óleo usado e os ingredientes essenciais para os vários produtos de limpeza”, explicam César Henriques e Filipe Antunes, dois dos co-fundadores da EcoXperience, citados no comunicado.

“Valorizamos um resíduo e fornecemos detergentes altamente ecológicos, sem produtos químicos agressivos para o ambiente como acontece na generalidade com os actuais detergentes”, afirmam.

A empresa está também a avaliar os diferentes tipos de óleos usados noutros locais do mundo. Objectivo: “encontrar uma solução para cada zona geográfica do globo ou mesmo desenvolver uma fórmula universal.”

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.