lobo ibérico
Lobo ibérico conservado no Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard

ONGA criticam medidas de correcção da densidade de javalis em plena época de reprodução do lobo-ibérico

Treze organizações alertam para o impacto negativo na conservação do lobo-ibérico, espécie protegida e Em Perigo de extinção. Por isso, pedem suspensão da medida na área de distribuição do lobo, durante a sua reprodução, de Maio a Setembro.

Em Julho, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) abriu um Edital para reforçar as medidas para correção extraordinária da densidade de javalis.

Nesse mesmo mês, 13 organizações não governamentais de Ambiente (ONGA) enviaram uma carta ao ICNF para expressar a sua “grande preocupação face à sobreposição das mesmas com a época de reprodução do lobo-ibérico o que poderia comprometer a conservação desta espécie”, segundo um comunicado enviado hoje à Wilder.

“O exercício da caça ao javali nas circunstâncias permitidas no Edital, isto é durante a época de reprodução do lobo-ibérico, é altamente lesivo para a espécie pela perturbação que provoca em áreas de grande importância para a sua conservação, nomeadamente os locais de reprodução durante o período de maior vulnerabilidade das crias (nos primeiros cinco meses de vida). Ainda mais quando as medidas extraordinárias previstas no Edital possibilitam a presença de até dez caçadores e 20 cães de caça, tanto no período diurno como noturno, nas ações de correção solicitadas por entidades titulares ou gestoras de zonas de caça”, explicam as ONGA.

Por isso, propõem um novo Edital que acautele melhor a proteção do lobo-ibérico e pedem a “suspensão imediata da atribuição de credenciais para correção extraordinária da densidade de javalis na área de distribuição do lobo, durante a sua época de reprodução (maio – setembro)”.

As ONGA receiam que essas acções resultem “na deslocação das alcateias em busca de um novo refúgio o que poderá resultar na diminuição da taxa de sobrevivência das crias, uma vez que a mobilidade destas é limitada nos primeiros meses de vida, para além de expor toda a alcateia a muitos outros riscos durante essa deslocação, dos quais o mais flagrante é o atropelamento, a principal causa de morte conhecida da espécie, para além de outros, como o tiro ou armadilhas”.

“Também pediram que lhes fosse facultada informação relevante (como o número de credenciais já atribuídas, número de javalis a abater e já abatidos e a fundamentação sobre o potencial impacto destas medidas na população de lobo), na qual o ICNF se baseia para a publicação do mesmo. Até hoje, a resposta a este pedido não chegou, apesar da insistência.”

As ONGA avançam que já apresentaram uma queixa à Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos, por ainda não terem obtido a informação pedida ao ICNF.

Estas organizações pedem ao ICNF, entidade que “tem uma grande responsabilidade na preservação do último grande predador nacional” que reveja o Edital e que o suspenda imediatamente na área de distribuição do lobo.

O lobo-ibérico (Canis lupus signatus) é uma espécie protegida, desde 1988, e o único membro que resta da família dos grandes predadores de Portugal.

Estará reduzido a cerca de 300 animais distribuídos por 60 alcateias. Estes números são conhecidos graças ao último censo nacional à espécie, realizado em 2002/2003 e com resultados apresentados em 2006.

Com o passar dos anos, o lobo foi sendo empurrado, concentrando-se hoje em núcleos no Alto Minho, Trás-os-Montes e numa região a Sul do Douro.

As 13 ONGA que tomaram esta iniciativa são a ALDEIA, a ANP-WWF, ATN, a Dear Wolf, o FAPAS, o GEOTA, o Grupo Lobo, a Palombar, a Quercus, a Rewilding Portugal, a SPEA e a Zoo Logical.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.