ONU escolhe lince-ibérico como protagonista do Dia Mundial da Vida Selvagem

Mostrar o poder da conservação da natureza neste Dia Mundial da Vida Selvagem, celebrado a 3 de Março, foi a razão de a ONU ter escolhido o lince-ibérico como uma das espécies simbólicas para marcar esta data.

A ONU salienta que o lince-ibérico (Lynx pardinus), “um predador crucial nos ecossistemas mediterrânicos”, tinha há 20 anos uma população mundial de apenas 94 animais. Foi “um programa de recuperação que permitiu que o número de linces-ibéricos subisse para mais de 1.100, mostrando assim o poder da conservação” da natureza.

Este esforço de conservação, que há década une Portugal e Espanha, tem apostado na reprodução da espécie em cativeiro – em cinco centros ibéricos, um deles em Portugal, o Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), em Silves – e na melhoria dos habitats e sua ligação entre si.

Mas, apesar de já não ser uma espécie classificada pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) como Criticamente Em Perigo de extinção, o lince-ibérico continua a ser uma espécie Em Perigo.

Para celebrar o sucesso de conservação deste felino, a ONU escolheu a imagem do lince-ibérico para um dos posters oficiais deste Dia Mundial da Vida Selvagem de 2022, cujo tema é “Recuperar espécies chave para restaurar ecossistemas”.

O objectivo deste Dia é alertar para o estado de conservação de algumas das espécies da fauna e flora selvagens mais ameaçadas de extinção, direcionando as discussões em torno dessas espécies para a necessidade de se encontrarem e implementarem soluções para conservá-las.

“Não nos esqueçamos do nosso dever de preservar e usar de forma sustentável a vasta variedade da vida no planeta. Vamos pôr mais carinho, consciência e sustentabilidade na nossa relação com a natureza”, declarou António Guterres, secretário-geral da ONU.

Hoje, mais de 8.400 espécies selvagens de animais e de plantas estão Criticamente Em Perigo, enquanto cerca de outras 30.000 estão Em Perigo ou Vulneráveis. No total, e segundo a ONU, mais de um milhão de espécies estarão ameaçadas de extinção em todo o mundo.

A história deste Dia Mundial da Vida Selvagem começa a 20 de Dezembro de 2013, quando a 68ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu proclamar o dia 3 de Março como o Dia Mundial da Vida Selvagem. A data não foi escolhida ao acaso. É o dia da adopção da Convenção para o Comércio Internacional de Espécies Selvagens Ameaçadas de Fauna e Flora (CITES), em 1973, organismo que pretende garantir que o comércio internacional não ameaça a sobrevivência das espécies.

“Em 2022, o Dia Mundial da Vida Selvagem direciona o debate para a irreversibilidade da extinção das espécies com a categoria de Criticamente em Perigo, para apoiar o restauro dos seus habitats e ecossistemas e promover o uso sustentável de recursos partilhados”, escreve, em comunicado, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

“A redução continuada de espécies, habitats e ecossistemas ameaça toda a vida no planeta, seres humanos incluídos. Por todo o mundo, as pessoas dependem dos recursos de vida selvagem e da biodiversidade, nas mais diversas áreas, como a alimentação, saúde ou vestuário, entre muitas outras. Milhões de pessoas dependem também da natureza como fonte de subsistência e desenvolvimento socioeconómico.”

São inúmeros os eventos organizados para celebrar este Dia Mundial. Em Portugal, por exemplo, a organização Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural e o ICNF) devolveram esta manhã à natureza um grifo (Gyps fulvus) no Castelo de Castro Laboreiro, em Melgaço (distrito de Viana do Castelo). Esta ave esteve a recuperar no Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Gerês. 

“Atualmente, não há registos oficiais da existência de grifos a nidificar no Parque Nacional da Peneda-Gerês ou da presença de colónias. Castro Laboreiro foi o local escolhido para devolver o grifo à natureza por estar próximo do ponto onde foi encontrado debilitado e resgatado para recuperação”, explicou a Palombar, em comunicado.

“O grifo é uma espécie de abutre que está classificada como “Quase Ameaçada” em Portugal. A utilização de iscos envenenados, a redução da disponibilidade de alimentos, a diminuição do aproveitamento pecuário extensivo, a perturbação humana, a eletrocussão, a degradação dos habitats, a perseguição humana e a instalação de parques eólicos são as principais ameaças para esta espécie.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.