Foto: Virvoreanu Laurentius/Pixabay

ONU: Está na hora de redefinirmos aquilo a que chamamos progresso

Agência da ONU lança hoje a 30ª edição do relatório anual que mede o desenvolvimento humano dos diferentes países do mundo. Pela primeira vez, incorpora as emissões e a pegada ligada ao consumo.

A pandemia do Covid 19 é a mais recente crise que está a afectar o mundo, mas não será a última se os humanos não diminuirem a pressão que estão a exercer sobre a natureza, avisou esta terça-feira o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

A agência da ONU lança hoje a 30ª edição do relatório anual que mede o desenvolvimento humano dos diferentes países do mundo, sob o lema “A Próxima Fronteira: Desenvolvimento Humano e o Antropoceno”. Neste ano – de forma experimental – o índice toma também em conta as emissões de dióxido de carbono e a pegada material.

“Os humanos têm mais poder sobre o planeta do que nunca. Numa altura de Covid-19, recordes de subida de temperatura e desigualdade impagável, está na altura de usarmos esse poder para redefinirmos aquilo a que chamamos progresso, em que o nosso carbono e as nossas pegadas ligadas ao consumo não ficam mais escondidas”, disse Achim Steiner, administrador do PNUD, citado numa nota de imprensa.

“Como mostra este relatório, nenhum país do mundo atingiu um desenvolvimento humano muito elevado sem colocar uma imensa pressão sobre o planeta. Mas podemos ser a primeira geração a corrigir este erro. Esta é a próxima fronteira para o desenvolvimento humano.”

O relatório defende que estamos a entrar numa era geológica totalmente diferente, o Antropoceno ou Idade dos Humanos. O autor principal do documento é o economista português Pedro Conceição, que é actualmente o director do Gabinete do Relatório do Desenvolvimento Humano.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que todos os anos mede a saúde, educação e qualidade de vida de cada país, e estabelece um ranking que vai dos mais aos menos desenvolvidos, tem nesta publicação dois novos elementos: as emissões de dióxido de carbono e a pegada material.

Como este novo índice ajustado às pressões planetárias, “emerge uma nova imagem global, que mostra uma avaliação menos simpática mas mais clara do progresso humano”, indica o PNUD.

EUA e Canadá descem, Costa Rica sobe

Um dos reflexos é a descida de 50 países do grupo dos muito desenvolvidos, como reflexo da sua alta dependência de combustíveis fósseis e da sua pegada material. Os EUA e o Canadá, por exemplo, descem respectivamente duas e três posições. No mesmo grupo, Portugal sobe de lugar, passando do 40º para o 38º lugar.

Já países como a Cosa Rica, Moldávia e Panamá sobem pelo menos 30 posições, num reconhecimento claro da menor pressão que fazem sobre o planeta.

“A próxima fronteira para o desenvolvimento humano não é escolher entre pessoas ou árvores; é sobre reconhecer, hoje, que o progresso humano guiado por crescimento desigual e intensivo em carbono chegou ao fim da linha”, acredita Pedro Conceição.

“Ao lidarmos com a desigualdade, capitalizando em inovação e trabalhando com a natureza, o desenvolvimento humano pode dar um passo tranformacional em frente para suportar as sociedades e o planeta em conjunto”, concluiu o autor principal do relatório.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.