Os dodôs eram, afinal, bem inteligentes

O dodô (Raphus cucullatus), uma espécie de ave extinta que entrou na cultura popular como símbolo da falta de inteligência, foi afinal muito esperta, revela uma nova investigação publicada na revista Zoological Journal of the Linnean Society.

 

No dodô, a relação entre o tamanho do cérebro e o tamanho do corpo é semelhante à que existe nos seus familiares mais próximos ainda vivos: os pombos. Estas aves têm a capacidade de serem treinadas, o que implica um nível de inteligência considerável.

Os investigadores também descobriram que a parte do cérebro responsável pelo sentido olfactivo no dodô era muito desenvolvida, uma característica pouco comum nas aves. Normalmente, estas concentram-se mais na visão.

O dodô era uma ave grande, que não voava. Vivia nas ilhas Maurícias no Oceano Índico e foi vista pela última vez em 1662.

 

Modelo de um dodô. Foto: AMNH/C. Chesek

 

“Quando as ilhas foram descobertas no final de século XVI, os dodôs não tinham medo dos humanos e por isso foram levados para os barcos e usados como carne para os marinheiros”, contou Eugenia Gold, a principal autora do estudo e investigadora do Departamento de Ciências Anatómicas da Universidade Stony Brook.

“Por causa desse comportamento e das espécies invasoras introduzidas na ilha, o dodô desapareceu menos de 100 anos depois de os humanos aparecerem. Hoje, quase só sabemos que eles se extinguiram e acho que foi por isso que lhes demos esta reputação de serem tontos.”

Para chegar às conclusões do estudo, Gold aplicou tecnologia de ponta para examinar o cérebro de um dodô a partir de um crânio bem preservado nas colecções do Museu de História Natural de Londres.

“É realmente fantástico aquilo que as novas tecnologias podem trazer aos espécimes antigos dos museus”, comentou Mark Norell, co-autor do estudo e curador de paleontologia no Museu de História Natura Americano. “Isto salienta a necessidade de mantermos e aumentarmos as colecções de história natural.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.