Foto: Krill666/Wiki Commons

Os microplásticos já chegaram aos minúsculos camarões do krill, no Pólo Sul

Novo estudo descobriu microplásticos nestes pequenos crustáceos e também em salpas, um invertebrado gelatinoso. Cerca de 60% dos organismos investigados continham partículas de nylon.

Os resultados da investigação coordenada pelo British Antarctic Survey (BAS), publicados esta quarta-feira na revista científica Royal Society Open Science, são uma prova de que o ‘krill’, tal como outro zooplâncton, ingere plástico no seu meio ambiente. A equipa de quatro investigadores acredita que estes minúsculos organismos confundem as pequeníssimas partículas de plástico, todas com menos de meio centímetro, com a comida de que normalmente se alimentam. Estes crustáceos são animais filtradores, que comem as microalgas do fitoplâncton e outros organismos microscópicos.

Tanto o krill como as salpas são duas espécies muito abundantes no Oceano Antártico, onde “são críticas para a dieta da maioria da vida marinha”, afirma em comunicado o British Antarctic Survey. Enquanto que o krill é o alimento principal para baleias, pinguins e focas, as salpas são comidas por alguns peixes e algumas grandes aves marinhas.

Os organismos que foram investigados para este trabalho tinham sido recolhidos durante duas missões de pesquisa na ponta norte da Península Antártica e na ilha de São Jorge, realizadas em 2016 e 2018.

Entre os microplásticos extraídos pelos cientistas, os mais comuns foram as microfibras, sendo que uma das fontes principais são as minúsculas partículas de plástico que se desprendem da roupa durante a lavagem e a secagem na máquina. Mais tarde, acabam por ir parar ao oceano. Cerca de 60% do krill e das salpas continham nylon, um produto derivado do plástico muito utilizado em roupas, artes de pesca, cordas e nalguns pneus de carros.

“As evidências de consumo de microplásticos em duas espécies muito abundantes do Oceano Antártico é preocupante”, comentou a coordenadora da investigação, Laura Wilkie Johnston, bióloga marinha no BAS. “Ambas as espécies são uma parte integrante do ecossistema do Oceano Antártico e não compreendemos ainda totalmenhte os impactos que os microplásticos vão ter neste ambiente.”

Segundo o BAS, é muito provável que haja transferência destas minúsculas partículas de plástico, tanto do krill como das salpas, para predadores maiores como as baleias, as focas e os pinguins. Teme-se que a presença destas micropartículas afecte também o papel do Oceano Antártico como um dos maiores sumidouros de carbono na Terra. Isto porque o zooplâncton contribui para a transferência do dióxido de carbono que está presente na atmosfera para o fundo do mar.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.