Para a quinta protegida por carvalhos, pior que o fogo foi a chuva

Depois de ter resistido à passagem do fogo que deflagrou em Junho em Pedrógão Grande, protegida por uma barreira de árvores autóctones, esta quinta em Figueiró dos Vinhos (distrito de Leiria) não resistiu à chuva dos últimos dias, noticiou hoje a TSF.

 

Em Junho, a Quinta da Fonte chamou a atenção por ter sido poupada às chamas por causa de uma barreira de árvores autóctones. “Tudo o que era eucalipto ardeu mas os sabugueiros, carvalhos, figueiras e outras árvores nativas sobreviveram”, disse então à Wilder Liedewij Schieving, holandesa proprietária deste agro-turismo há já 10 anos.

Mas agora, pior do que o fogo foram as chuvas que caíram na região nos últimos dias. O incêndio que queimou tudo em redor da quinta destruiu a vegetação e as árvores, que já não estão lá para reter a água.

Como mostram os vídeos captados por Liedewij, os caminhos transformaram-se em torrentes de lama e há cascatas de água barrenta que abrem sulcos no solo agora sem protecção. O jardim que começava a ser recuperado está debaixo de uma camada de lama com um metro de espessura, escreve a proprietária no Facebook.

À rádio TSF, Liedewij disse que nunca tinha visto nada assim. Na sua opinião, a culpa é, sem dúvida, do estado em que estão as encostas do vale, totalmente queimadas.

Lurdes Castanheira, presidente da Câmara de Góis, disse à mesma rádio que estão “muito, muito preocupados com o Inverno, mas não estão parados e estão a avançar várias intervenções para evitar as enxurradas”.

Este é um problema que se adivinha para várias regiões do país, já que há um total de 164.249 hectares de área ardida desde 1 de Janeiro a 15 de Agosto, segundo o mais recente relatório provisório de incêndios florestais deste ano.

O ano de 2017 apresenta, até 15 de Agosto, o valor mais elevado de área ardida, desde 2007. O distrito mais afectado é Castelo Branco com 26.738 hectares, seguido de Santarém com 25.231 hectares e de Coimbra com 22.916 hectares.

O fogo afectou também nove Áreas Protegidas, principalmente o Parque Natural do Douro Internacional (2.792 hectares), o Parque Natural Regional do Vale do Tua (1.784 hectares), a Paisagem Protegida da Serra da Gardunha (1.416 hectares), o Parque Natural da Serra da Estrela (1.246 hectares) e o Monumento Natural das Portas de Ródão (579 hectares).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.