Foto: Joana Bourgard / Wilder

Para os portugueses a poluição é a maior ameaça à biodiversidade

Este é um dos factos conhecidos ontem no âmbito da nova sondagem do Eurobarómetro sobre as atitudes dos europeus em relação à biodiversidade.

A crise da natureza ganhou nos últimos dias uma nova dimensão política internacional. Um alarmante relatório das Nações Unidas expôs a ameaça de extinção para um milhão de espécies de animais e de plantas e a ruptura da capacidade do mundo natural.

Os sete países mais industrializados (G7) estiveram reunidos em Metz, França, e reconheceram a ameaça, comprometendo-se a fazer mais para travar a perda da biodiversidade.

Para saber o que pensam os cidadãos dos 28 Estados membros da União Europeia sobre a biodiversidade, foi realizada uma sondagem entre 4 e 20 de Dezembro de 2018 com um total de 27.643 inquiridos.

Segundo os dados do Eurobarómetros, divulgados ontem, 71% dos europeus já ouviram falar do termo “biodiversidade” mas só 41% sabem o que significa. Cerca de três em cada dez (29%) nunca ouviram o termo “biodiversidade”.

Em Portugal, 51% dos inquiridos sabe o que quer dizer “biodiversidade”, 23% já ouviu falar mas não sabe o que significa e 25% nunca ouviu falar deste termo.

De acordo com esta sondagem, Portugal faz parte do grupo de seis países onde a compreensão da palavra é mais elevada: Suécia (73%), Bulgária (59%), Luxemburgo (58%), Croácia (56%), França (53%) e Portugal (51%).

Há quatro países em que, pelo menos, metade dos inquiridos nunca ouviu falar de “biodiversidade”: Polónia (54%), Lituânia (51%), Eslováquia e Chipre (ambos com 50%).

Em relação à Rede Natura 2000, 70% dos europeus nunca ouviu falar desta estrutura. O conhecimento é mais elevado na Bulgária e Finlândia (ambas com 76%). Em contraste, apenas 4% dos inquiridos no Reino Unido ouviram falar da Rede Natura 2000 (e apenas 1% sabem o que é) e 16% na Alemanha (apenas 5% sabe o que é). Em Portugal, 15% ouviram falar e sabem o que é; 20% só ouviram falar e 64% nunca ouviram falar.

Os inquiridos consideram que as maiores ameaças à biodiversidade são a poluição do ar, do solo e da água (77% nos inquiridos portugueses e 67% para a média da União Europeia); catástrofes provocadas pelo Homem (76% para os portugueses; 63% para a UE) e as alterações climáticas (69% para os portugueses; 58% para a UE).

Há menos preocupação com a agricultura e produção florestal intensiva e sobre-pesca (46% dos portugueses; 50% para a UE) e com as espécies de plantas e animais exóticas invasoras (33% dos portugueses; 32% para a UE).

Cuidar da natureza é uma responsabilidade

Mais de três quartos (77%) dos inquiridos nos 28 Estados membros concordam plenamente que “temos a responsabilidade de cuidar da natureza” e 71% acredita que “cuidar da natureza é essencial para combater as alterações climáticas”.

Segundo a sondagem, 63% dos inquiridos considera que “a nossa saúde e bem-estar dependem da natureza e da biodiversidade”. Além disso, 62% acredita que biodiversidade e natureza saudáveis são importantes para o desenvolvimento económico a longo prazo e que a biodiversidade é indispensável para a produção de alimentos, combustíveis e medicamentos (61%).

Quase metade dos inquiridos considera que o desenvolvimento económico que causa danos à natureza dentro das áreas protegidas “deveria ser proibido” (45%). Em Portugal, esta percentagem é a mais elevada dos 28 países, com 68%. Apenas 4% dos portugueses acha que o desenvolvimento económico vem em primeiro lugar; 24% diz que é aceitável desde que seja de grande interesse público e que seja totalmente compensado através do restauro ou medidas de mitigação.

A nível europeu, pelo menos dois terços dos inquiridos considera que as áreas protegidas são muito importantes para a “conservação de animais e plantas ameaçados” (71%), para “evitar a destruição de áreas naturais valiosas na terra e no mar” (68%) e para “salvaguardar o papel da natureza em providenciar alimento, água potável e ar limpo” (67%).

Mais de metade diz que as áreas protegidas são “muito importantes” para “promover o uso sustentável do solo” (58%) e “aumentar a qualidade de vida das comunidades locais” (52%). 42% acha que estas áreas são “muito importantes” para “estimular o desenvolvimento local sócio-económico”.

Em Portugal, os inquiridos consideram que as áreas protegidas são muito importantes para “melhorar a qualidade de vida das comunidades locais” e para “salvaguardar o papel da natureza em providenciar alimento, água potável e ar limpo” (ambas com 78%).

Os inquiridos acham que as acções mais importantes para a UE tomar para proteger a biodiversidade são restaurar a natureza e a biodiversidade para compensar os danos causados pelas actividades humanas ou infraestruturas fora das áreas protegidas e informar melhor os cidadãos sobre a importância da biodiversidade (ambos escolhidos por 48%).

A terceira acção mais popular é a “expansão das áreas onde a natureza é protegida” (43%).

Já para os portugueses, a prioridade da UE deveria ser informar melhor os cidadãos sobre a importância da biodiversidade (59%) e implementar melhor a legislação existente para proteger a natureza (54%).

Mais de um terço diz que a UE deveria “alocar mais recursos financeiros à protecção da natureza” (38%) e “garantir que os subsídios à agricultura e pescas não prejudicam a biodiversidade” (36%).


Agora é a sua vez

Conheça aqui as cinco coisas que pode fazer para ajudar a travar a extinção das espécies

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.