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À direita, em cima de um ramo, está pousado um noitibó. Foto: Cristina Luís

Participantes no bioblitz de Tróia encontraram mais de 200 espécies

Os cerca de 60 participantes que estiveram no primeiro bioblitz em Tróia, que aconteceu num fim-de-semana de Junho, identificaram pelo menos 214 espécies ao longo de um sábado e de uma manhã de domingo. Os organizadores contaram à Wilder como correu esta iniciativa de ciência cidadã.

 

Adelaide Ferreira, parte da equipa organizadora deste bioblitz, classifica esta primeira experiência de ciência cidadã na Península de Tróia como “um sucesso”.

Das cerca de 60 pessoas que se juntaram a esta inventariação relâmpago de espécies na área do Tróia Resort, orientada por uma equipa de cientistas, muitas fizeram mais do que apenas uma saída de campo. Pelo que, contas feitas, houve 150 visitas – “desde participantes individuais a escolas, incluindo várias famílias com crianças e jovens”, adianta Adelaide Ferreira, que é investigadora no MARE – Centro de Ciências do Mar e Ambiente, do pólo da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (MARE-FCUL).

E houve espécies mais emblemáticas ou que causaram surpresa? Várias, responde esta bióloga. “Uma das espécies que mais surpreendeu foi a cenoura-do-mar (Veretillum cynomorium), um coral-mole bioluminescente, que fez as delícias dos visitantes na maré nocturna de sábado.”

 

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Observação de espécies na zona entre-marés. Foto: C. Ferreira

 

O grupo dos invertebrados marinhos (moluscos, artrópodes como as estrelas do mar e outros invertebrados) foi aliás o segundo com mais identificações registadas, cerca de 70, ultrapassado apenas pelas plantas terrestres (112 espécies).

Já as aves de Tróia também se deram a conhecer, num total de 26 observações registadas. Adelaide Ferreira recorda a resposta de um noitibó da Europa (Caprimulgus europaeus), que reagiu “ao chamamento emitido a partir de um telemóvel e de uma coluna portátil”.

“O indivíduo observado apareceu duas vezes ao ouvir a gravação, sugerindo um comportamento territorial, pensando que se tratava de outro noitibó”, descreve.

 

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À direita, em cima de um ramo, está pousado um noitibó. Foto: Cristina Luís

 

No caso das plantas terrestres, entre as observações feitas no bioblitz “destacam-se vários endemismos [espécies que ocorrem apenas numa determinada área geográfica], como a Linaria ficalhoana ou o Juniperius navicularis, e ainda algumas espécies raras a nível nacional, como Delphinium nanum e Verbascum giganteum.”

Este bioblitz contou ainda com a identificação de algumas espécies de mamíferos, incluindo morcegos e uma raposa.

“Um dos aspectos que agradou muito também aos visitantes foi a sala do Tróia Bioblitz, ponto de partida de todas as actividades, onde os participantes puderam observar vários dos animais encontrados nas visitas, à lupa ou em aquário”, indica ainda Adelaide Ferreira, que pertence a uma equipa de investigadores que desde há vários anos monitorizam as espécies da zona de Tróia.

 

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Participantes no bioblitz a observarem espécies à lupa. Foto: D.R.

 

Além do MARE-FCUL, houve também outros parceiros deste bioblitz, como o Tróia Resort e a BioDiversity4All. Nessa plataforma online podem ser consultadas todas as espécies observadas, para já ainda em actualização.

 

 

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.