Quita-merenda. Foto: Miguel Porto/Flora-On

Passeios botânicos: Descubra as plantas fascinantes da Serra do Gerês

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Na semana em que se comemora o Dia do Fascínio das Plantas, dia 18, Carine Azevedo propõe uma visita à primeira floresta que conheceu, que ficou para sempre a sua “floresta encantada”.

A Serra do Gerês é um dos lugares botânicos preferidos de Carine Azevedo, consultora na gestão de património vegetal e comunicadora de ciência.

“O Gerês foi a primeira floresta que conheci, ainda criança. Era tradição, todos os anos, a família dar um passeio ao Gerês e na escola também não podia faltar o passeio de final de ano escolar àquele maravilhoso espaço”, lembra esta botânica, que faz parte da rede de especialistas do consultório “Que Espécie é Esta?” e é autora de artigos na Wilder.

Esta que foi sempre a sua “floresta encantada” foi também “a ‘porta’ que se abriu para aprender a gostar, a explorar e a descobrir a biodiversidade”, acredita Carine.

Ao longo do ano, aliás, qualquer altura é boa para visitar esta serra do Norte de Portugal, que faz parte da maior área protegida portuguesa: o Parque Nacional da Peneda-Gerês.

“O Gerês é um espaço único, de transformação constante, onde se assiste à sucessão de acontecimentos que marcam a diferença das estações. Seja na Primavera, no Verão, no Outono ou no Inverno, as cores, as flores, os aromas e os sons surpreendem-nos com novidades e beleza em cada visita que fazemos.”

Relíquias da floresta nativa

Carine Azevedo sublinha que “são imensas as espécies botânicas de interesse que aqui podemos encontrar”.

No extrato arbóreo, destaca “o mais extenso carvalhal de carvalho-alvarinho (Quercus robur)” e também “verdadeiras relíquias da floresta nativa – algumas das quais estão quase extintas na natureza, como é o caso do azevinho (Ilex aquifolium), do azereiro (Prunus lusitanica) e do teixo (Taxus baccata), com alguns espécimes centenários”.

Carvalho-alvarinho. Foto: Joanna Boisse/Wiki Commons
Teixo. Foto: Yoel Winkler/Unsplash

“Também, exemplares únicos de castanheiro (Castanea sativa), pereira-brava (Pyrus communis), carvalho-negral (Quercus pyrenaica), bétula (Betula alba), faia (Fagus sylvatica) e sobreiro (Quercus suber) marcam pela diferença neste reservatório único de biodiversidade”, acrescenta Carine.

Carvalho-negral. Foto: Vicente Miguel Llop Molés/Wiki Commons

“No estrato arbustivo é a vez do trovisco-do-Gerês (Thymelaea broteriana), do zimbro-anão (Juniperus communis), das urzes (Erica umbellataE. australisE. arborea), da carqueja (Pterospartum tridentatum), do sargaço (Halimium lasianthum subsp. alyssoides) e do hipericão-do-Gerês (Hypericum androsaemum), que nos brindarem com cores e aromas magníficos das suas flores.”

Sargaço. Foto: ghislain118/Wiki Commons
Carqueja. Foto: Paulo Talhada dos Santos/Casa das Ciências

Lírio-do-Gerês, quita-merenda e plantas carnívoras

No estrato herbáceo, segundo a botânica portuguesa, “destacam-se o lírio-do-Gerês (Iris boissieri) a tulipa (Tulipa australis), o narciso-bravo (Narcissus triandrus), a campainha-amarela (Narcissus bulbocodium), a junça-do-algodão (Eriophorum angustifolium), a prímula (Primula acaulis), a anémona-dos-bosques (Anemone trifolia subsp. albida), as orquídeas (Gymnadenia conopsea e a Dactylorhiza maculata), a quita-merenda (Colchicum montanum) e os fetos (Athyrium filix-feminaBlechnum spicantDryopteris affinisOsmunda regalisPolypodium interjectum, entre outros)”.

Carine refere ainda a orvalhinha (Drosera rotundifolia) e a pinguicula (Pinguicula lusitanica), algumas das espécies carnívoras nativas de Portugal.

Orvalhinha. Foto: Espirat/WikiCommons

Segundo esta especialista, o mais importante para passear na Serra do Gerês é trazer “boa disposição e vontade de explorar”, sendo que é também útil “não esquecer de levar um chapéu, calçado e roupa confortável”, além de “água, comida e protector solar” numa mochila. Em dias mais frescos, “um casaco impermeável ou um agasalho leve”.

Importante é resistir à tentação “de levar ‘lembranças’ para casa”. “Deixem as pedras, as plantas e as flores onde as encontraram, para que os outros também as possam apreciar”, apela Carine. “Não levem nada, além das fotografias e das memórias de um passeio memorável e do que trouxeram convosco.”


Ao longo desta semana, esteja atento às sugestões que a Wilder vai publicar sobre locais de interesse botânico em Portugal.

Se quiser descobrir ainda mais locais botânicos fascinantes, consulte a obra “Sítios de Interesse Botânico de Portugal Continental” (Volume I e Volume II), da Sociedade Portuguesa de Botânica, disponível de forma gratuita através da editora Imprensa Nacional. E aproveite e conheça toda a Coleção Botânica em Português, de acesso gratuito.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.