Peixes, poças de maré e aranhas distinguidos por prémio português de Ecologia

Três jovens investigadores portugueses receberam o Prémio de Doutoramento em Ecologia 2020 pelos seus trabalhos com peixes limpadores, poças de maré e aranhas, revelou hoje a SPECO (Sociedade Portuguesa de Ecologia).

 

José Ricardo Paula e Vanessa Mendonça, investigadores no MARE (Centro de Ciências Marinhas e Ambientais, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) e Jacinto Benhadi-Marín, investigador no CIMO (Centro de Investigação da Montanha) do Instituto Politécnico de Bragança, foram os escolhidos de entre um total de 19 candidatos das Universidades de Aveiro, Algarve, Coimbra, Évora, Lisboa, Minho, Nova de Lisboa e Porto.

A entrega dos prémios está marcada para o 19º Encontro Nacional de Ecologia, de 9 a 11 de Dezembro na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo.

O Prémio de Doutoramento em Ecologia – Fundação Amadeu Dias, que é entregue todos os anos, é organizado pela SPECO e pretende promover “a investigação de excelência realizada pelos jovens investigadores portugueses na área da Ecologia”, explica a Sociedade em comunicado enviado à Wilder.

José Ricardo Paula, que recebeu o primeiro prémio, estudou as relações entre peixes limpadores e os seus “clientes” nos recifes de coral e como essas relações respondem ao aquecimento e acidificação dos oceanos.

O seu trabalho mostrou que “o stress ambiental provocado pela acidificação e aquecimento dos oceanos pode perturbar as simbioses de limpeza através de alterações de comportamento mediadas por alterações neurobiológicas”.

“A perda de abundância de corais, após eventos extremos, pode diminuir em 80% a predação dos parasitas. Esta situação pode levar a efeitos em cascata nos ecossistemas dos recifes de coral, já que sem limpeza a probabilidade de aumentar a abundância de parasitas é muito maior.”

Em segundo lugar ficou Vanessa Mendonça, com o seu trabalho sobre o funcionamento das redes tróficas em poças rochosas intertidais.

Procurou saber mais sobre o papel destas poças como locais de alimentação preferencial para espécies de peixes transitórios e sobre a resposta das redes tróficas a ondas de calor em ecossistemas temperados e tropicais.

Para isso caracterizou redes complexas dos ecossistemas costeiros rochosos em diferentes eco-regiões do mundo e sujeitas a diferentes regimes térmicos, no Canadá, Reino Unido, Portugal, Ilha da Madeira, Moçambique e Brasil.

“Este trabalho, com a avaliação de mais de 100 espécies diferentes, temperadas e tropicais, permitiu estabelecer uma classificação de vulnerabilidade ao aquecimento oceânico, mostrando diferenças entre espécies tropicais e temperadas.”

Jacinto Benhadi-Marín especialista de aranhas, recebeu o terceiro prémio. Este investigador usou estes animais como bioindicadores de práticas de gestão agrícola em olivais. A sua utilização baseou-se no facto destes animais serem predadores de topo, consumindo principalmente insectos, o que os torna relevantes como inimigos naturais de pragas.

Este investigador estudou os padrões de diversidade das aranhas ao longo de um gradiente de práticas agrícolas no olival do nordeste de Portugal e estudou o comportamento e mecanismos de predação de diferentes grupos funcionais de aranhas.

Descobriu que, o efeito da temperatura, além das práticas agrícolas, tem um efeito significativo, permitindo o desenvolvimento de diferentes estratégias de caça e de nichos ecológicos explorados.

Ao longo deste trabalho desenvolveu, ainda, duas ferramentas de software que permitem simular a resposta funcional de um predador e uma cascata trófica de uma praga modelo. Estas ferramentas podem ser usadas para comparar taxas de ataque de um predador ou parasitóide e avaliar modelos de protecção biológica.

Os prémios, no valor de três, dois e mil euros, são atribuídos, respectivamente, ao primeiro, segundo e terceiro classificados. Os três candidatos terão ainda um bónus de dois anos com quotas pagas.

O júri que avaliou as candidaturas é composto por Maria Amélia Martins-Loução, presidente da SPECO, Ricardo Melo, coordenador do pólo de Lisboa do MARE (Centro de Ciências Marinhas e Ambientais), Margarida Reis, professora associada com agregação da Universidade de Lisboa e investigadora do cE3c (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas), Helena Freitas, coordenadora do CFE (Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra), Myriam Lopes, vice-coordenadora do CESAM (Centro de Estudos Ambientais e Marinhos da Universidade de Aveiro), Joaquin Hortal, investigador colaborador do cE3c, do Museu Nacional de Ciencias Naturales (CSIC) Madrid e João Gonçalves, administrador da Fundação Amadeu Dias.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.