Foto: Laszlo Ilyes

Pescas: Novo projecto quer diminuir o sofrimento dos peixes quando são capturados

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Um consórcio internacional de cinco organizações, que incluem Portugal, quer investigar e mostrar como se poderá reduzir e dor e o stress destes animais.

Quais são as artes de pesca que mais dor provocam nos peixes? Como  reduzir o sofrimento destes animais, ao serem capturados? O projecto “Carefish/catch – Promoting better fishing standards” (em português, “promover melhores padrões na pesca”)  quer responder a estas e a outras perguntas, para as quais há pouca informação.

O novo projecto, anunciado esta terça-feira, 4 de Outubro – no Dia Mundial dos Animais – “promoverá melhores práticas de pesca, irá avaliar o impacto dos diferentes métodos de pesca nos peixes e proporá medidas para reduzir o stress e sofrimento dos peixes”, descreve uma nota de imprensa enviada à Wilder.

A equipa lembra que as preocupações com o bem-estar animal têm sido crescentes, tanto na área da pecuária como na aquacultura, mas “no que diz respeito às pescas a conversa é bem diferente”, uma vez que o tema está “geralmente ausente do debate público e das preocupações dos consumidores” quando estão a comprar pescado.

No entanto, do lado dos cientistas, dos grupos de defesa animal e dos decisores, essa preocupação tem vindo a ganhar peso.

O consórcio responsável por esta iniciativa é liderado pela Fair-Fish International (Suíça) e inclui duas instituições portuguesas: o Fish Ethology and Welfare Group e o CCMAR – Centro de Ciências do Mar. A Friend of the Sea (Itália) e o DeMoS Institute (França) são os restantes membros.

O financiamento é assegurado por uma bolsa da Open Philantropy, uma organização filantrópica financiada principalmente por Cari Tuna e Dustin Moskovitz, um co-fundador do Facebook e da Asana.

O que já se sabe?

Há cerca de 20 anos, acreditava-se em geral que os peixes não sentiam dor, mas hoje em dia está cientificamente provado que “os peixes conseguem não só sentir dor, mas também experienciar stress e emoções como o medo, pânico e mesmo alegria”, notam os responsáveis do projecto.

Aliás, de acordo com os resultados iniciais divulgados em Junho passado, numa apresentação do projecto a especialistas internacionais, “os peixes sofrem infracções de bem estar severas”, que variam consoante a espécie de peixe e a arte de pesca que é usada.

Os trabalhos para aprofundar essa análise e divulgar os resultados vão decorrer até 2025. Até lá, em primeiro lugar, a equipa pretende “avaliar os diferentes impactos que as pescas têm no bem-estar animal dos peixes e definir os aspetos com maior potencial para reduzir o sofrimento animal em diversas pescarias e para diferentes espécies”.

De seguida, com base nessa informação, serão criadas novas linhas orientadoras para o processo de certificação da Friends of the Sea (FOS),  organização que certifica práticas de pesca sustentável a nível internacional. As novas regras vão passar a incluir critérios destinados a reduzir o sofrimento animal.

Por outro lado, o projecto Carefish/catch vai ainda incluir pescadores e outros profissionais ligados a este meio, para “avaliar as dimensões sociais e económicas do bem-estar animal nas pescas”, ajudando também os consumidores e os retalhistas “no momento da compra”.

Prevista está também a criação de uma base de dados de acesso livre, com os resultados da investigação.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.