Pesticida comum prejudica capacidade de voo das abelhas

Biólogos da Universidade norte-americana da Califórnia, em São Diego, demonstraram que um pesticida bastante comum pode prejudicar de forma significativa a capacidade das abelhas para voar, segundo um estudo publicado ontem na revista Scientific Reports.

 

A investigação de Simone Tosi, James Nieh, da Universidade da Califórnia, e Giovanni Burgio, da Universidade italiana de Bolonha, descreve em detalhe como o pesticida Tiametoxam, da família dos neonicotinóides, ameaça as abelhas melíferas. Este pesticida, desenvolvido pela Syngenta, é utilizado em culturas como o milho, soja e algodão para evitar que os insectos se alimentem das plantas.

Os neonicotinóides são insecticidas de largo espectro, introduzidos nos anos 90 e hoje comercializados em mais de 120 países, e que têm como alvo insectos considerados pragas pelos agricultores. Nos últimos anos, vários estudos científicos têm demonstrado os impactos nocivos destes insecticidas em polinizadores como as abelhas.

Depois de meses de testes, em que as abelhas voavam em condições controladas, os investigadores concluíram que os níveis normais de exposição aos neonicotinóides – a que as abelhas estão sujeitas quando procuram pólen nas culturas agrícolas – resultam em danos substanciais à sua capacidade para voar.

“Os nossos resultados mostram que a mera exposição a este pesticida pode alterar a capacidade de voo de abelhas saudáveis, especialmente prejudicando a duração, velocidade e distância dos voos”, comentou Simone Tosi, em comunicado. “A sobrevivência das abelhas melíferas depende da sua capacidade para voar porque é a única maneira que têm para se alimentar. A sua capacidade de voo também é crucial para garantir a polinização de culturas e de plantas silvestres”, acrescentou.

A exposição a longo prazo ao pesticida, em mais de um ou dois dias, reduz a capacidade de voo destes insectos. Uma exposição a curto prazo faz com que voem de forma mais errática.

“As abelhas que voam de forma mais errática por longas distâncias podem reduzir as suas probabilidades de regressar a casa”, disse James Nieh, da Universidade da Califórnia.

“As pessoas estão preocupadas com as abelhas melíferas e a sua saúde porque estes animais estão intimamente ligados à dieta e nutrição humana”, comentou o investigador. “Alguns dos alimentos mais nutritivos que precisamos consumir são polinizados pelas abelhas.”

A 8 de Março, peritos da ONU divulgaram um relatório altamente crítico aos pesticidas, defendendo ser um mito que são necessários para alimentar o mundo. O documento afirma que os pesticidas têm “impactos catastróficos no ambiente, na saúde humana e na sociedade como um todo”. Os autores consideram que chegou o momento de “criar um processo global de transição para uma produção de alimentos mais segura e saudável”.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.