O elefante foi uma das espécies mais trabalhadas por Peter Beard. Foto: Axel Tschentscher

Peter Beard, lenda da fotografia de vida selvagem, morreu aos 82 anos

Conhecido como “o último dos aventureiros”, Peter Beard fotografou a fauna africana, muitas vezes arriscando a vida. Foi encontrado morto aos 82 anos.

 

Peter Beard, fotógrafo, artista e naturalista norte-americano, foi encontrado morto neste domingo, quase três semanas depois de ter desaparecido da sua casa em Montauk, Long Island. Tinha 82 anos.

A sua família confirmou que o corpo encontrado no Parque Estatal Camp Hero, em Montauk, numa zona de floresta, pertencia a Peter Beard. O fotógrafo tinha demência e já tinha tido um enfarte. Tinha sido visto pela última vez a 31 de Março e as autoridades montaram uma grande operação de busca para o encontrar, que incluiu helicópteros, drones, cães e mais de 75 polícias.

“Estamos todos de coração partido pela confirmação da morte do nosso amado Peter”, disse a família num comunicado.

 

Peter Beard, 1968. Foto: Peter Beard Studio

 

A obra mais conhecida de Peter Beard é “The End of the Game”, livro publicado pela primeira vez em 1965 pela Viking Press. Através de textos e fotografias, Peter Beard documentou a tragédia vivida pela vida selvagem do continente africano, em particular o elefante. Este livro é uma crónica da destruição gradual do símbolo central da vida de África: os animais. Numa série de fotografias únicas, elefantes, girafas, hipopótamos, chitas, zebras e leões em África são mostrados a viver num estado de graça natural e a morrer com uma coragem majestosa.

Em 1965, J. Anthony Lukas escreveu sobre a obra na “The New York Times Book Review”: “Os retratos dos próprios animais – vivos, a morrer e mortos – são soberbos. Não são as “bonitas” imagens de Walt Disney das gazelas a saltar ou papagaios por entre o verde da floresta. As imagens de Beard captam o lado selvagem dos animais que têm de demonstrar, todos os dias, que estão aptos a sobreviver.”

Também ficaram conhecidos os seus diários, que mantinha desde criança e que misturavam palavras, imagens e objectos que ele encontrava como penas e bilhetes de comboio.

Peter Hill Beard nasceu em Manhattan a 22 de Janeiro de 1938. Começou a fotografar ainda em criança, com uma câmara que uma avó lhe deu. Em 1955, aos 17 anos, Peter Beard fez a sua primeira viagem a África, na companhia de Quentin Keynes, bisneto de Charles Darwin. E apesar de ter tido de subir a uma árvore para escapar de um hipopótamo zangado que ele tentava fotografar, ficou conquistado.

Alguns dos seus outros livros são “Eyelids of Morning – The Mingled Destinies of Crocodiles and Men” (1973) sobre crocodilos e “Peter Beard”, um compêndio do seu trabalho.

 

Peter Beard no Hog Ranch em 2014. Foto: D.R.

 

“Peter era um homem extraordinário que viveu uma vida excepcional”, escreveu a sua família em comunicado. “Era incansável na sua paixão pela natureza, nada polida ou sentimental mas sempre autêntica” e “foi um artista contemporâneo pioneiro que estava décadas à frente do seu tempo nos seus esforços para soar o alarme sobre a degradação do Ambiente.”

“Ele morreu onde viveu: na natureza.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.