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Foto: Joana Bourgard

Petróleo, carvão e gás: Novo estudo avisa sobre medidas urgentes para travar o aquecimento global

Num artigo agora publicado, investigadores da University College of London chamam a atenção para a necessidade de deixar intocadas a maioria das reservas destes combustíveis fósseis, que hoje continuam a ser largamente utilizados.

As conclusões deste trabalho, publicadas esta semana na Nature, são claras: quase 60% das reservas de petróleo e gás e quase 90% do carvão terão de permanecer intocados no solo, até 2050, se quisermos ter 50% de probabilidades de manter o aquecimento global abaixo de 1,5 ºC, ao longo deste século.

Para que essa meta seja alcançada, avisam estes cientistas, “a produção mundial de petróleo e gás deve diminuir anualmente cerca de 3% até 2050, durante os próximos 30 anos”. Em comunicado, a equipa alerta que “um número significativo de regiões do mundo já atingiram o ‘pico’ de produção de combustíveis fósseis”. E por isso, “qualquer aumento numa região deve ser compensado por uma diminuição maior da produção em todos os outros locais”.

Para fazerem as contas, os investigadores basearam-se nas quantidades de reservas conhecidas de combustíveis fósseis em 2018. Assim, dessas reservas, indicam que será necessário deixar intocados 58% do petróleo, 59% do gás metano fóssil e 89% do carvão, até 2050.

E se o objectivo for aumentar ainda mais as possibilidades de travar o aquecimento global? Nesse caso, é preciso travar ainda mais rapidamente a produção de petróleo e gás e manter ainda mais combustíveis fósseis no solo.

“O nosso novo estudo acrescenta mais provas às pesquisas recentes, indicando que a produção global de petróleo e gás metano fóssil já atingiu o seu ‘pico'”, sublinham os cientistas.

Certo é que algumas regiões do mundo com uma grande dependência da venda de combustíveis fósseis, em especial o Médio Oriente, têm de se preparar para estas mudanças, lembram também. No caso daquela região, por exemplo, o estudo concluiu que será necessário deixar no solo cerca de 60% das reservas que ali estão contidas, tanto de petróleo como de gás.

A equipa salienta ainda que as estimativas apresentadas, quanto às necessidades de limitar a extracção e produção a partir de combustíveis fósseis estão “provavelmente subestimadas”, até porque há ainda uma grande incerteza quanto ao uso de tecnologias de extracção de carbono. “No entanto, assumindo que a vontade política está presente para cumprir os compromissos assumidos em Paris, as reduções de combustíveis fósseis sugeridas no nosso trabalho são completamente alcançáveis”, concluem.

De acordo com cientistas citados pelo The Guardian, aliás, há alguns “sinais encorajadores”: foi atingido um máximo na produção mundial de carvão em 2013 e acredita-se que a produção global de petróleo também está prestes a atingir o seu ‘pico’.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.