Castor-europeu (Castor fiber). Foto: Philipp Blank/Wiki Commons

Pode o castor europeu voltar a Portugal?

O leitor da Wilder Daniel Veríssimo, que está a tirar o mestrado de Economia no ISCTE -Instituto Universitário de Lisboa, explica porque é favorável à reintrodução do castor europeu em território português.

No passado, o castor-europeu (Castor fiber) estava presente desde a orla do Mar Mediterrâneo, a Sul, até às tundras a Norte, desde a Europa Ocidental à Sibéria. Mas no começo do século XX, já estava desaparecido de grande parte da sua área de distribuição histórica, existindo apenas pequenas populações isoladas. 

A razão principal para o seu desaparecimento? A caça. A pele era considerada de grande qualidade para fazer chapéus, as glândulas odoríficas eram usadas para fazer perfumes e a sua carne era muito apreciada.

A caça foi também uma das razões para a extinção do castor em Portugal, no século XV, conjugada com a perda de habitat.

Existem evidências da presença do castor em Portugal através de registos fósseis, como no caso da gruta do Caldeirão, perto de Tomar, e na toponímia. Alguns lugares aparentemente relacionados com “biber” ou “caster”  – nomes arcaicos para castor – são por exemplo Beire ou Castedo.

Foto: Per Harald Olsen/Wiki Commons

Mas hoje em dia, quando o castor europeu já regressou a grande parte da sua distribuição histórica, fará sentido o regresso da espécie a Portugal? 

Considero que sim. Não há melhor arquiteto paisagístico do que um castor. As barragens criadas pelos castores ajudam a mitigar o efeito de secas e cheias, melhoram a qualidade da água e os pequenos lagos criados por este roedor são um habitat ideal para insetos, aves e mamíferos. O castor é uma espécie chave no ecossistema, a sua presença determina o aparecimento e abundância de inúmeras outras espécies.

Castores no rio Narew, Polónia. Foto: Jerzystrzelecki/Wiki Commons

Restaurar os sistemas hídricos portugueses é fundamental para garantir uma disponibilidade hídrica de qualidade. Num puro contexto económico restaurar os sistemas ribeirinhos é um processo dispendioso e demorado. A solução mais eficiente é “renaturalizar” os rios, recuperar os ecossistemas para que se auto sustentem e o castor pode ser chave neste processo.

Uma zona com possíveis condições para a reintrodução em Portugal são as bacias hídricas do rio Minho ou do rio Lima, pois nestas áreas existe uma cobertura florestal considerável, com níveis de pluviosidade elevados e temperaturas amenas. Os castores, ao contrário do que se possa pensar, são animais bastante resilientes, podendo sobreviver numa grande variedade de habitats, até mesmo em zonas agrícolas e meios urbanos.

Existe uma diretiva da União Europeia, a Diretiva Habitats de 1992, que inclui o castor na lista de espécies com potencial interesse comunitário para serem reintroduzidas ao longo da sua distribuição histórica. Já houve vários programas de reintrodução formais e informais em diversos países europeus.

Um exemplo é o caso de Espanha, onde o regresso aconteceu nos anos 2000, na bacia hídrica do rio Ebro, através de uma reintrodução não formal. Hoje em dia, a população existente é de cerca de 600 a 700 exemplares e continua a crescer. Nesta zona do território espanhol, o nível de cobertura florestal e a pluviosidade anual são idênticos aos que ocorrem em Portugal. 

Já no Reino Unido, onde os castores foram também introduzidos no começo do século XX, a população atual é de cerca de 1000 castores. Para além dos benefícios ambientais, como prevenção de cheias, também houve benefícios económicos para as populações locais, nomeadamente através do turismo.

Os castores podem ser um aliado valioso para mitigar as consequências das mudanças climáticas e contrariar a crise da extinção de biodiversidade.

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Características do castor europeu:

O castor europeu é um dos maiores membros da família dos roedores. É herbívoro, pesa entre 13 a 35 quilos e pode medir entre 73 a 135 centímetros. Em liberdade vivem até aos 7 ou 8 anos de idade.

Os castores são monógamos e só existe um casal adulto por colónia. Reproduzem-se uma vez ao ano e os juvenis atingem a independência por volta dos 1,5 e os 2 anos de idade.