abelha pousada numa flor
Foto: Wilder/Arquivo

Polinizadores sofrem com elevadas densidades populacionais humanas

A densidade populacional, e não a proporção de espaços verdes, tem o maior impacto na riqueza de espécies de polinizadores nas cidades, concluiu um novo estudo da Universidade de Lund (Suécia).

 

Para chegar a esta conclusão, os investigadores estudaram 40 jardins residenciais e logradouros da cidade sueca de Malmo e nos seus arredores. O resultado surpreendeu os cientistas, que esperavam que o coberto vegetal fosse mais significante.

“Descobrimos que, nas cidades, quanto mais elevada for a densidade populacional, menos espécies de abelhas selvagens e moscas-das-flores encontrámos nos jardins e nos logradouros”, disse, em comunicado, Anna Persson, um dos investigadores que participou neste estudo publicado na revista Landscape and Urban Planning.

 

abelha pousada numa flor
Foto: Wilder/Arquivo

 

“Também concluímos que as áreas com logradouros rodeadas de muitos prédios e edifícios altos têm menos espécies de abelhas selvagens do que as áreas com casas mais espaçadas, mesmo quando há espaços verdes entre os edifícios”, acrescentou a investigadora.

Segundo estes investigadores, o estudo mostra que edifícios altos e logradouros em zonas com uma elevada densidade populacional humana constituem barreiras físicas para os insectos. Além disso, espaços verdes em áreas densamente populadas são, muitas vezes, insuficientes para os polinizadores, especialmente quando consistem apenas num relvado e em alguns arbustos ornamentais.

“Muitas vezes, os espaços verdes urbanos parecem muito diferentes e a sua qualidade pode variar muito”, sublinhou Anna Persson.

 

 

“Um espaço pode ser verde e, ainda assim, ser um habitat pobre para os polinizadores. Em áreas densamente populadas, com edifícios altos, estes espaços são, normalmente, simplificados e mantidos por empresas externas, quando os jardins de casas mais espaçadas entre si são mantidos pelos próprios moradores e têm uma maior variedade de plantas.”

Outra descoberta desta equipa foi que os jardins urbanos têm diferentes espécies de abelhas selvagens do que as espécies encontradas nas paisagens agrícolas.

“Por isso, a cidade complementa as zonas rurais”, disse Anna Persson, sublinhando que as cidades podem ser um ambiente importante para a diversidade regional de abelhas. Isto também quer dizer que são necessárias medidas de conservação para as abelhas, tanto para as zonas urbanas como para as zonas rurais, para atingir espécies diferentes.

Para as moscas-das-flores, por exemplo, o resultado foi diferente. As espécies registadas nas zonas urbanas eram apenas uma fracção das espécies encontradas nas zonas rurais, provavelmente devido ao facto de que os habitats para as larvas das moscas-das-flores são mais escassos nas cidades, por exemplo, ambientes aquáticos e com restos de plantas e vegetação.

 

Abelhão. Foto: Joana Bourgard

 

Anna Persson espera que este estudo ajude a gerar novo conhecimento sobre como planear e construir cidades, de uma forma que reduza o seu impacto negativo na riqueza de espécies.

“Ao reduzir as barreiras físicas entre os logradouros residenciais e combinando diferentes tipos de ambientes, é possível beneficiar os polinizadores”, defendeu a investigadora.

Além disso, “há espaço para melhorarmos os espaços verdes existentes, especialmente em zonas com elevada densidade populacional. Os espaços verdes nessas áreas são, muitas vezes, de baixa qualidade, tanto para a biodiversidade como para a recreação humana. Uma forma de os melhorar é deixá-los crescer e tornarem-se um pouco mais ‘selvagens’, com menos manutenção intensiva e com mais plantas nativas”, concluiu.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.