Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ

População de linces na Extremadura espanhola está estabilizada, diz novo estudo

A população de lince-ibérico na Extremadura espanhola, resultado de reintroduções na natureza, está estabilizada, revela hoje uma equipa de investigadores espanhóis que seguiu 32 animais durante cinco anos.

Esta é a principal conclusão deste estudo sobre a dispersão, os movimentos exploratórios e o comportamento territorial dos linces-ibéricos (Lynx pardinus) que foram reintroduzidos na Extremadura espanhola desde 2014. O artigo foi agora publicado na revista Scientific Reports.

Ainda assim, os linces desta população “demoraram mais de cinco anos a estabilizar os seus territórios”, segundo um comunicado do Instituto de Investigación en Recursos Cinegéticos (IREC), uma das três instituições que participaram neste estudo. 

Mel espreita viatura. Foto: Técnico/ICNF/LIFE Iberlince

A equipa de investigadores analisou os dados espaciais de 32 linces durante os primeiros cinco anos da sua reintrodução na natureza na Extremadura (entre 2014 e 2018), mais concretamente na área de Hornachos-Matachel.  A área abrangida pelo estudo foi de 90 quilómetros quadrados. 

O Vale de Matachel está estrategicamente inserido entre várias populações de lince e, segundo os investigadores, pode ser uma área importante para ligar núcleos deste felino.

Os movimentos exploratórios feitos por estes animais são cruciais para que possam detectar áreas óptimas para se estabelecerem e os principais corredores que ligam as diferentes populações.

Os 32 linces reintroduzidos entre 2014 e 2018 realizaram movimentos exploratórios suficientemente amplos para colonizar e ligar núcleos populacionais num raio de 50 quilómetros a partir da área de reintrodução, revela este estudo. “Os movimentos exploratórios dos linces reintroduzidos podem ser extensos e em qualquer direcção, inclusivamente quando há muito habitat de alta qualidade disponível. Isto deve ser tido em conta nos programas de reintrodução de carnívoros terrestres”, acrescenta o mesmo comunicado.

Foto: Programa de Conservação Ex-Situ do Lince-Ibérico

Os investigadores não detectaram diferenças significativas entre machos e fêmeas na capacidade de empreender estes movimentos exploratórios. 

Outra das conclusões desta investigação é que, nas primeiras fases da reintrodução, o tamanho dos territórios estabelecidos pelos exemplares reintroduzidos não foi afectado pela abundância de coelhos ou pela densidade de linces. 

Além disso, em média, “os territórios dos indivíduos reintroduzidos foram menos estáveis que os de populações naturais”. 

Foto: ICNF

Esta investigação juntou investigadores da Fundación para la Conservación de la Biodiversidad y su Hábitat (CBD – Habitat), do Grupo de Investigación en Gestión de Recursos Cinegéticos y Fauna Silvestre do Instituto de Investigación en Recursos Cinegéticos (IREC) e da Dirección General de Sostenibilidad da Junta da Extremadura.

Com este trabalho, os investigadores quiseram dar aos gestores de terrenos e conservacionistas mais ferramentas e informação “para optimizar a implementação de futuros projectos de reintrodução e reforço de populações”, escrevem os autores no artigo científico.

O lince-ibérico é uma espécie endémica da Península Ibérica que foi, em tempos, comum. Mas, durante o século XX, os seus números declinaram fortemente, com muitas extinções locais e uma redução significativa dos seus territórios históricos. Assim, a espécie chegou ao início deste século numa situação crítica, com menos de 200 animais distribuídos em duas populações isoladas.

Como resposta, foram postos no terreno vários projectos de conservação – in situex situ -, que incluíram as reintroduções na natureza de animais nascidos em cativeiro. Estas acontecem desde 2014 em Portugal, Extremadura, Andaluzia e Castela-La Mancha.

De acordo com os censos de 2020, existiam 1.111 linces na Península Ibérica, um número recorde nos últimos 20 anos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.