Galha-branco-oceânico, um dos tubarões Criticamente em Perigo. Foto: Thomas Ehrensperger/Wiki Commons

População mundial de tubarões e raias caiu mais de 70% em 50 anos

Um estudo científico confirma um declínio dramático destes predadores de topo, em especial devido às pescas e às capturas acidentais.

O novo estudo, realizado por uma equipa internacional, comparou 57 bases de dados globais, relativas a 18 espécies de tubarões oceânicos e de raias, contidos no índice internacional Living Planet Index. Os cientistas analisaram também a forma como evoluiu o risco de extinção para todas as 31 espécies deste grupo, através da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. Os resultados foram publicados esta quinta-feira na Nature.

“Os números mostram que a abundância global de tubarões oceânicos e raias caiu para um ponto em que 75% destas espécies estão classificadas como ameaçadas de extinção”, nota Cassandra Rigby, autora principal do artigo e investigadora da James Cook University, na Austrália.

De acordo com o The Guardian, metade das espécies de tubarões oceânico estão agora Em Perigo ou Criticamente em Perigo, os dois últimos degraus na escada rumo à extinção na natureza. A situação é mais grave para o galha-branco-oceânico (Carcharhinus longimanus), o tubarão-martelo (Sphyrna lewini) e o grande-tubarão-martelo (Sphyrna mokarran). No que respeita às raias, também a jamanta (Mobula birostris) está em risco de desaparecer.

Os investigadores apontam o dedo principalmente ao aumento da pressão da indústria pesqueira sobre tubarões e raias, incluindo as muitas capturas que acontecem de forma acidental durante a pesca de outras espécies, como o peixe-espada e o atum. Este grave problema junta-se a outros factores, como a desoxigenação e o aumento da temperatura dos oceanos.

Contas feitas, esta equipa estima que ao longo dos últimos 50 anos houve um aumento de 18 vezes na chamada pressão de pesca relativa, um indicador que compara as capturas com o número de tubarões e raias que restam.

Resultado? A abundância global destes peixes caiu 71% desde 1970. No entanto, “o declínio pode ser ainda mais severo, uma vez que estas análises iniciam-se em 1970 mas as frotas pesqueiras começaram a expandir-se mundialmente ainda antes dos anos 1950”, avisa Cassandra Rigby, num comunicado da James Cook University.

“Precisamos de introduzir imediatamente limites de pesca para impedir o colapso das populações de tubarões e raias”, apela por sua vez Colin Simpfendorfer, co-autor do estudo, também ligado à mesma universidade. “Os governos têm de adoptar, implementar e obrigar – a nível doméstico e internacional – a que haja limites de pesca baseados na ciência e outras medidas de protecção.”

Em contrapartida, haverá graves consequências se não se fizer nada, sublinha. “Há um momento em que o esgotamento de espécies atinge um ponto de não retorno. Se nada for feito e atingimos esse ponto, então estamos a arriscar um futuro de oceanos sem tubarões e raias.”

Apesar das más notícias, Simpfendorfer adianta que as populações de grande-tubarão-martelo e de tubarão-branco (Carcharodon carcharias) no Atlântico Noroeste parecem estar a recuperar, devido às leis americanas que protegem essas espécies.


Recorde estes oito factos sobre tubarões portugueses que precisa de saber.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.